Do ponto de vista da direita, os melhores professores estão na escola pública. São mais bem pagos (pelo menos se não tiverem tido as carreiras congeladas desde o tempo do Sócrates) e, por enquanto, são um pouco mais bem tratados que os dos privados que, se o patrão quiser, vão limpar sanitas. Nada contra limpar sanitas. Mas parece-me que não seja tarefa com mais valia pedagógica.
Do ponto de vista da direita (PS, PSD e PP, caso não saibam distinguir), os melhores vão para onde o seu excelente desempenho é valorizado. Assim provo o que acima é sustentado.
Porém, para a direita, com os seus rankings e sistemas de avaliação de professores e de valorização do desempenho de escolas, as melhores escolas são do privado.
Partindo agora do princípio que boas escolas têm bons professores... está a falhar-me o silogismo...
...será preciso contratar os professores que escrevem com erros de ortografia.
Porra, o que é que está a falhar no meu raciocínio?
Tristão e Isolda, de Hughes Merle.
No primeiro ano em que dei aulas, estava a entregar um teste de matemática a um aluno, do Ensino Especial, e este começou a chorar convulsivamente. Quando corrijo testes nunca reparo no cabeçalho, avalio pelo que é escrito, não por quem o faz ( e tento, sempre que possível, que o Ensino Especial seja o menos especial possível - é discutível, mas ainda ninguém me convenceu a pensar de outra maneira). O aluno chorava, e eu disse-lhe que da próxima faria melhor. Até que uma colega dele disse-me, "Não, stor, é que ele nunca teve um 'Excelente'". Nada sei desse aluno, hoje.
Nunca chorei numa última aula, excepto num caso. Uma turma "não excelente", pouco dada a estudar, com problemas de todo o género, mas que se maravilhavam ao descobrir o jogo cama-de-gato, pegando eu, da mão de um aluno distraído, um fio sem destino na vida, estabelecendo-se na sala uma feliz desorganização de miúdos irrequietos, endiabrados e felizes. Um dia, de improviso, pus no quadro, antes do dia dos namorados: "vamos descobrir o par amoroso de... Tristão... Romeu... Abelardo... Adão... Inês... Marie Curie... Heathcliff... Humphrey Bogart... Rick..." - quase todos homens, menos no par Pedro e Inês e Marie e Pierre porque Pedros há muitos, e era vê-los a procurar na net e nas enciclopédias como doidos e descobrindo o nome de Isolda como se lhes caísse o Graal nas mãos. Ninguém descobriu quem era o par do Rick. Lembro-me de um aluno dessa turma, o T***, muito rebelde e indisciplinado (filho de "família" complicada). Pu-lo ao lado da melhor aluna da turma, a C***, muito certinha mas assertiva e que o punha na linha com um olhar apenas. Um dia, descobri escrito no parapeito da janela, onde ele se sentava: "C***, sei que não sou homem para ti, mas és a mulher da minha vida". Ri-me e, a seguir, chorei ao ler aquilo. E chorei e ri, ao deixá-los na última aula, àquelas maravilhas de humanidade, sem vergonha das lágrimas enquanto todos me rodeavam batendo palmas num gesto de amor como há poucos. A única vez em que fiz isso. Nada sei deles agora. Seria tão bom que descobrisse que T*** e C*** eram, hoje, como Humphrey Bogart e Lauren Bacall - o único casal feliz da minha lista. Quem me dera que se sentissem, hoje, como eu.