Para o César Machado
Prometo tentar dizer-te que falho
Constantemente,
E que sou imperfeito,
E que as nossas preocupações
Diárias são tão sérias
Quanto marcar férias
E cumprir objetivos.
Foca-te na luz dos mistérios
Mais sérios,
Órficos, que por furtivos aqui não cabem.
Os dias passam
E há mais clientes.
Passam as horas
E mais vaidades eclesiásticas há
A satisfazer. Mais para fazer.
Foca-te na espiral de Tântalo.
Sísifa, a vontade da clientela
Infernal não pode esmorecer.
Foca-te, mas não te fiques
Por aí.
Atira-te aos leões como gatinhos,
Procura nas suas garras os carinhos
Que outros acham na indolência.
Haja paciência.
Prometo pedras
Prometo chagas
Batatas fritas.
Maionese light.
Sombras negras em escala cinza
E algemas de cristal.
Prometo não estragar tudo
Por ser perfeito.
Não me leves muito a peito.
Há ainda muito a tentar.
A tentar-me,
E não sou Cristo.
Sou apenas isto,
Perfeito apenas.
Prometo cenas.
Prometo falhar.