O seguinte texto foi escrito por John Rosemond, um psicólogo (ainda que a sua licença para exercer não esteja reconhecida em alguns estados dos Estados Unidos) que está longe de ser um exemplo na sua classe profissional. Entre as nódoas que lhe sujam o currículo estão alguns conselhos inapropriados que deu a pais para que os filhos deixassem de ter acompanhamento psicológico, além de defender publicamente que crianças abusadas sexualmente não necessitam de qualquer ajuda psicológica profissional. A sua filosofia resume-se na ideia de que o modo antigo de criar os filhos é a mais correta e a que melhores resultados deu ao longo da história. É um psicólogo que resume a psicologia a uma fé, sem verdadeiro fundamento racional, como qualquer fé, embora eu desconfie que ele não seja tão desdenhoso em relação a outros tipos de fé. Eu também tenho as minhas quezílias com esta tão volúvel e discursiva ciência, mas é questão que não pretendo desenvolver neste artigo em particular. O texto que se segue é a tradução de um artigo seu, cuja leitura me parece aconselhável. Até num jardim envenenado nascem flores e, no meio de algumas passagens que me parecem mera propaganda republicana, nacionalista, tradicionalista e autoritarista, há um conselho a reter e que, além de me parecer apenas bom senso, parece-me empiricamente conforme à realidade. Vem de quem vem. Mas seria bom reflectir no assunto e que o mesmo fosse abordado de forma séria por psicólogos... a sério.
Os filhos não devem ser o mais importante numa família
Perguntei recentemente a um casal com três filhos, nenhum dos quais ainda na adolescência, “Quais são as pessoas mais importantes da vossa família?” Como todas as boas mamãs e papás deste admirável novo milénio, responderam: “Os nossos filhos!”
“Porquê?”, perguntei então. “O que é que dá aos vossos filhos esse estatuto?”, e como todas as boas mamãs e papás deste admirável novo milénio, não conseguiram responder à questão a não ser através de alguns apelos atrapalhados à emoção.
Por isso respondi, por eles, à questão. “Não há nada que torne razoável dar esse estatuto às vossas crianças.” E expliquei-lhes que muitos, se não a maioria dos problemas que eles tinham com os filhos - coisas típicas, hoje em dia - são o resultado de tratarem as suas crianças como se eles mesmos, o seu casamento e a sua família existissem por causa das crianças, quando, na realidade, é o contrário. Os filhos existem por causa deles e do seu casamento, e prosperam porque estes estabeleceram uma família estável. Além do mais, sem eles, os seus filhos não teriam uma alimentação adequada, não teriam as boas roupas que vestem, não viveriam na casa confortável em que vivem, não teriam as férias fantásticas que têm, e por aí fora. Em vez de terem vidas que são relativamente despreocupadas (apesar dos dramas que ocasionalmente tecem e que fazem crer no contrário), os seus filhos teriam, sem eles, uma vida cheia de preocupações e necessidades.
Este é ponto central da questão. As pessoas da minha idade sabem que este é o ponto central da questão porque quando éramos crianças, era para nós claro que os nossos pais eram a parte mais importante das nossas famílias. E era por isso, e exactamente por causa disso, que respeitávamos os nossos pais e era exactamente por causa disso que admirávamos os adultos em geral.
Sim, Virgínia, há algum tempo atrás, nos Estados Unidos da América, as crianças eram, para o seu bem, cidadãos de segunda classe.
Também era claro para nós - falo, claro, em termos gerais, embora de forma justa - que o casamento dos nossos pais era mais importante para eles que a sua relação connosco. Por isso, não dormíamos nas camas deles nem interrompíamos as suas conversas. A refeição em família, em casa, era vista como mais importante que as atividades extra-escolares. O papá e a mamã falavam muito mais um com o outro que connosco.
Como não estávamos num pedestal, emancipámo-nos mais cedo e com mais sucesso que as crianças que vieram depois.
A pessoa mais importante num exército é o seu general. A pessoa mais importante numa empresa é o seu Diretor. A pessoa mais importante numa sala de aulas é o professor. E as pessoas mais importantes numa família são os pais. A coisa mais importante para as crianças é prepará-las adequadamente para uma cidadania responsável. O principal objetivo não deve ser criar um estudante que só tira boas notas e é o maior em três modalidades desportivas diferentes, com lugar na equipa olímpica de natação e numa universidade de topo, e que se tornará um cirurgião neurologista proeminente. O principal objetivo é criar uma criança que venha a fortalecer a cultura e a comunidade.
Dizer “a nossa criança é a pessoa mais importante na nossa família” é o primeiro passo para criar uma criança que julga ter autoridade para fazer o que lhe apetece. Não vai querer isso. Que a sua criança não o saiba, porque ela não precisa disso. Nem a América.