Domingo, 12 de Julho de 2009
Elogio da frustração

"A pair on a chair", de James P. Blair.

 

Leio no Paulo Brabo uma citação brilhante de  Ashleigh Ellwood Brilliant: "as minhas fontes não são confiáveis, mas as informações que me passam são interessantíssimas". Brilliant tem aquele toque de espírito (ou será humor inglês?) que consiste na reformulação do sentido da ironia de forma a dar consistência lógica e moral ao que é reprovável. Foi ele quem disse que, das duas, uma: ou queria menos corrupção, ou mais possibilidades de participar nela, até porque a corrupção não é mais que a forma determinada pela Natureza para que se mantenha a fé do cidadão na Democracia.  Não tenho dúvidas de que a Democracia, ao dar poder ao povo (mesmo que um poder mitigado e diluído, como acontecerá em qualquer democracia representativa ocidental), está a receber dele a permissão para que os representantes escolhidos pelo voto usem dos mesmos vícios populares, mas a outra escala. Só os ditadores se podem dar ao luxo de serem incorruptíveis sem se sentirem atingidos intimamente pelo sentimento da frustração. E não há sentimento mais reprovado hoje em dia pela sociedade que a frustração. E isso frustra-me. Errado. Chateia-me, apenas. Não há, hoje, maior ofensa que chamar alguém de frustrado. As pessoas são constantemente pressionadas para realizar os seus sonhos - e se desistem de o fazer, mesmo que seja porque os sonhos já não são os mesmos de antes, ou porque aos sonhos se decide preferir o chão em que os pés assentam, são imediatamente consideradas como abortos vivos, seres que não atingiram a perfeição de um sonho realizado. Sonho esse que, quantas das vezes, não é o seu. Ser doutor, ser rico, ser aplaudido, ser seguido, ser admirado, ser invejado. É esse o sentido da vida de quem não aceita ser falhado e recusa a simples ideia de conviver com a frustração. E claro que a corrupção é, evidentemente, o meio mais eficaz (ainda que nem sempre o mais eficiente) de realizar os sonhos e fugir à frustração. O homem político, frente à vida colectiva, não deixa de ser um indivíduo que partilha da crença comum de que a frustração é a negação da própria vida. Por isso, cede. Corrompe-se. E corrompido, destituído intimamente da sua integridade moral, retornará rapidamente, se for boa pessoa, ao ventre materno da frustração. Mas até os maus regressam à frustração depois do clarão ofuscante da realização do irrealizável. Graças a Deus, o mais democrata e igualitário dos ditadores, somos todos feitos de material corruptível e degradável, tanto no corpo, como no espírito, como na reputação. Brilliant diz que a vida não tem significado. Ou, por outro lado, até tem um certo significado. Que eu, como ele, pobres criaturas conscientemente e orgulhosamente frustradas, desaprovamos. É na desaprovação moral da condição humana e do seu destino em direcção ao nada que a frustração, metamorfoseada no sentimento profundo da injustiça, nos poderá fazer semelhantes aos santos. E superiores aos doutores, aos ricos, aos aplaudidos, aos seguidos e admirados. E, suprema felicidade, poderemos almejar (sem qualquer obrigação social ou íntima de chegar a tal meta) à repousante ausência do desejo de ser invejado.

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publicado por Manuel Anastácio às 06:45
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Sábado, 11 de Outubro de 2008
Problemas de comunicação

Restaurante "O Abocanhado", em Brufe, Terras de Bouro.

 

No artigo anterior, apresento como enigma a placa que encontrei em Brufe, Terras de Bouro. Como não tinha localizado especificamente este Brufe, é natural que alguns leitores, pouco conhecedores da geografia do Norte montanhoso de Portugal, pudessem pensar, depois de uma consulta a Santo Google, que me referia à freguesia de Brufe, em Famalicão. A internet e os meus posts podem, de facto, levar a essa conclusão errada. Em artigos anteriores, tenho exposto algumas fotografias de milheiros na paisagem montanhosa da Serra da Amarela, apenas com a menção de "Brufe". Se eu for, entretanto, à Wikipédia no momento em que escrevo este artigo, encontro na página "Brufe" a desambiguação para duas freguesias com o mesmo nome, uma em Famalicão, outra em Terras de Bouro. Acontece que a fotografia que ilustra o Brufe de Famalicão é um milheiro, no meio de couves galegas recém-postas e murchinhas de sede, num alto montanhoso. É natural, portanto, que se julgue (para quem não conheça as notórias diferenças entre Famalicão e Terras de Bouro), que eu falava do Brufe de Famalicão. Entretanto, já pus, na Wikipédia, a fotografia no lugar certo.

 

O Brufe de Terras de Bouro, situado onde Judas perdeu as botas é, entretanto, um local actualmente muito na moda graças a um restaurante de simples mas eficaz arquitectura contemporânea ("O Abocanhado"), sobre uma paisagem de maravilhas, e ao lado de uma aldeia de belos recantos de granito.

 

Entretanto, a Carla ajudou-me a clarificar algumas coisas, no mesmo sentido que a intervenção do Luís Bonifácio, cujas visitas muito me honram, a despeito das nossas claras diferenças ideológicas. Citando Manuel Antunes, no Blog Vento Norte: "[a Independência] pedimo-la [os de Terras de Bouro] logo em 1139, ainda antes da existência de Portugal, quando, na Veiga da Matança, em Valdevez, ajudámos (às ordens do normando Gonçalo de Abreu, descendente dos reis de França, vindo para Portugal com o Conde D. Henrique, donatário de Brufe, aldeia vizinha de Vilarinho) D. Afonso Henriques e os seus homens, contra o Reino de Leão. E lutámos por essa independência (a de Portugal), ao lado de D. João I e ao lado de D. João IV. Por isso é que, desde o princípio da nacionalidade, os reis de Portugal concederam às Terras dos Búrios (actual Terras de Bouro) o "privilégio" de os seus mancebos não participarem no exército do reino, com a condição de defenderem a fronteira com o país vizinho, nomeadamente na Portela do Homem, na Portela da Amarela, no Castelo de Bouro, etc. (...). "Privilégio" esse que perdurou até 1834."

 

O Luís Bonifácio, contudo, em comentário anterior ao da Carla dizia "No caso de Brufe, um dos direitos que tinha era o de não dar mancebos para o serviço militar, ao contrário do que sucedia com outras povoações ali perto. E porque é que Brufe tinha esse direito?" - pergunta... E responde: "Basta ler a placa!" - não, não basta ler a placa! A placa não explica, em lado algum a razão do privilégio (entretanto esclarecido pela Carla). Apenas diz que apesar desse privilégio, Brufe "honrava o país na luta contra o invasor"! Mas qual a razão da referência específica a 1706? E qual era esse invasor? O Luís diz: "os seus habitantes se notabilizaram por feitos heróicos na sua defesa [na defesa de quê, ao certo?], muito provavelmente durante a Guerra da Restauração, pois na Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714) não ocorreram quaisquer combates no norte do país." - ora, a Guerra da Restauração terminou em 1668, por isso continuo a considerar como enigma aquela data, naquela placa. E, tal como o Luís diz, na Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714) não ocorreram quaisquer combates no norte do país. Por isso, por que razão aparece 1706???

 

O enigma persiste. Para mim, pelo menos.

 

 

Paisagem da Serra da Amarela, Brufe, Terras de Bouro.

publicado por Manuel Anastácio às 19:51
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Terça-feira, 30 de Setembro de 2008
Buxo e buchos

Cena de Eduardo Mãos de Tesoura. Sem buxo.

 

A Gerana pergunta o que é buxo. Em primeiro lugar, é, de todas as plantas, provavelmente a que é mais utilizada na nem sempre nobre arte da topiária, que consiste em aparar árvores e arbustos de forma artística, como fazia o Eduardo Mãos de Tesoura. De facto, é das poucas plantas que gosto de ver aparadas. As árvores têm dignidade própria e uma beleza superior quando não são forçadas a caber nas formas do mau gosto humano. Claro que nem chego a falar do deplorável e criminoso costume de cortar drasticamente os ramos a árvores de grande porte, de modo a promover todos os anos uma copa desproporcionada de pequenos ramos enfezados - costume tão frequente no meu Portugal arboricida e que tem sido especialmente denunciado pelo meu amigo Nuno Teixeira Santos. O buxo (Buxus sempervirens), porém, permite devaneios artísticos ao jardineiro sem que a planta perca a sua dignidade. O jardim de "O Rapaz de Bronze", de Sophia de Mello Breyner Andressen dá especial atenção ao jardim de buxo, local que enchia as medidas da vaidade dos gladíolos.

 

Não confundir buxo com bucho, que é o estômago de alguns animais e que é utilizado na gastronomia da Beira Baixa e arredores. Na minha terra natal, o bucho de carneiro é utilizado para fazer "arroz de maranhos" que, geralmente, é confeccionado em bolsinhas de estômago cozidas. Quando havia a matança do porco (actividade que envolvia sempre muita gente, como se fosse uma festa) havia dois momentos altos que marcavam os trabalhos depois da morte do porco: quando se assava a passarinha e quando se assava o bucho. Quanto à passarinha, nunca entendi o que era bem ao certo - e não tem nada a ver com a genitália feminina, porque os porcos machos também a tinham. Santo Google diz-me que no Brasil chama-se passarinha ao pâncreas do Boi, mas não sei se poderei fazer a extrapolação. O bucho - o estômago do porco - era cozido com as morcelas logo no primeiro dia da matança e era comido grelhado mais tarde, marcando o final de toda a azáfama que se seguia à morte do porco - e que cabia sempre às mulheres. Os homens, depois de matar o porco, dedicavam-se à nobre arte de bem beber e petiscar.

 

Há ainda o bucho revirado, mal que dava a certas crianças e que não sei explicar. Terei de investigar. Santo Google não me ajuda.

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publicado por Manuel Anastácio às 20:25
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Terça-feira, 16 de Setembro de 2008
Curta 40

"Modern Times", de Charles Chaplin - início.

 

- Por que escreve poesia em vez de...  Romance?... Crônica... Ensaio...?!

- A poesia é sintética. Rápida. É o Big Mac da literatura. As crónicas, essas, já são um bife à café ou uma açorda à alentejana - é fácil de fazer, dá pouco trabalho, é água a ferver, coentros e alho... Um romance exige mais tempo. Muito lume brando.

- É por isso que os portugueses escrevem mais poesia que ficção?

- Poesia é ficção.

- É?

- É.

- É por isso que os portugueses escrevem mais poesia que prosa?

- Não acredito muito nisso. Acho que toda a literatura portuguesa é poesia. E a que não é, não presta.

- Cara: acha que é por isso que os portugueses escrevem mais poemas p'rá titia que romances p'rá vovó?

- Ah! Assim já estamos a falar a mesma língua. Não.

- Não?

- Não acho nada disso. Os portugueses - eu incluído - escrevemos poesia porque não temos tempo para escrever coisas que se pareçam com a verdade. A verdade, ou o seu simulacro, exige tempo. É artesanato. Pode não ser tão apreciado e valorizado quanto a arte, mas exige mais trabalho. Trabalho físico e intelectual, entenda-se. A arte socorre-se apenas da ideia de "génio". Enfim, coisa de preguiçosos. O artesanato tem um valor intríseco maior que a arte - ou, pelo menos, que grande parte da arte... Enfim, e em suma: os portugueses são quase todos escritores de nascença. Mas só podem ser poetas porque não têm vida para serem romancistas, nem ensaístas. Produzem coisas rápidas para serem digeridas com lentidão.

- Quanto demora digerir um hamburguer?

- Não sei. Depende do estômago.

- Quanto demora fazer um hamburguer?

- Não sei.

- Rápido?

- Não sei.

- Fico esclarecido quanto à sua ignorância.

- Fico feliz por ter sido útil.

- ...

- Já agora: quanto tempo leva a fazer um hamburguer?

- Qual?

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publicado por Manuel Anastácio às 21:46
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Sábado, 5 de Julho de 2008
Enciclopédia Íntima: Memória (I)

Trailer de "Youth Without Youth" de Francis Ford Coppola.

 

A memória é uma das faculdades cognitivas mais mal compreendidas, mas também uma das mais fascinantes. Primeiro, porque, individualmente, manifesta-se de formas insuspeitas, por caminhos que ainda não entendemos, quer a nível fisiológico, quer a nível da sua estrutura conceptual. Segundo, porque é também um fenómeno social: há uma memória colectiva que se relaciona com outros conceitos como, por exemplo, o imaginário e, a nível da teoria da comunicação, com os suportes ou canais de comunicação. Terceiro, porque é uma faculdade da própria natureza, podendo-se manifestar em outros seres vivos que não o ser humano ou, quiçá, até em seres não vivos.

 

Há memória se houver evocação. A evocação é a contemplação de um objecto ou acontecimento não directamente apreendido pelos sentidos ou que pode, simplesmente, não existir. Há memória quando um animal reage a uma situação em conformidade com os efeitos que espera dessa situação (por exemplo, no reflexo condicionado) porque apesar de a situação ser, na altura, apreensível directamente pelos sentidos, os efeitos da mesma não o são. O cão sabe que o pau, batendo-lhe nas costas, provoca dor, e reage a quem o ameaça com o pau, não porque a memória evoque o pau, que é apreendido directamente, mas porque a memória vai evocar a dor, o que o obriga a reagir. Da mesma forma, há memória quando evocamos numa imagem, num som ou num cheiro o objecto que não está, efectivamente, ao alcance dos nossos sentidos, ainda que estes possam ser parcialmente iludidos. Há memória quando pensamos em flores ao cheirar um perfume. O cachimbo de Magritte é o mais flagrante dos ensinamentos sobre a memória enquanto representação: não é um cachimbo, mas evoca o cachimbo. Da mesma forma, quando vemos a representação de um unicórnio, esse ser, que, ao que parece, nunca existiu, é, da mesma forma, evocado, pelo que pode haver memória do inexistente -  entra-se aqui também no campo do imaginário, mas não exclusivamente. De facto, os próprios factos assentam em conceitos que, para todos os efeitos, não existem. A Matemática não é intrínseca à Natureza, ainda que a Natureza a ela obedeça  sem questionar a sua autoridade. A Matemática não existe, mas, ao ser evocada, tem, para o espírito, a autoridade da existência. Não sendo, é.

 

Paulo Rendeiro Marques, na Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura diz que a memória existe em todos os animais pluricelulares, excepto nos poríferos e nos mesozoários. Pouco sei de tal bicharada, nem sei a que género de testes foi submetida, mas duvido que não encontremos neles, de alguma forma, o conceito de memória. Não podemos, contudo, cair na tentação de confundir informação com memória. Por exemplo, a memória dos computadores não é, de facto, memória mas, apenas, armazenamento de informação - ou seja, disposição de matéria segundo uma ordem que pode evocar significados a um sujeito. A informação guardada num computador está tanto na memória como nos traços de um desenho sobre o papel... No entanto, depois de esquecermos alguma coisa (de a termos apagado da memória), pode acontecer que a reevoquemos a partir desses repositórios de informação externa à nossa memória. Isso é, de facto memória? É-o, já que algo não apreensível pelos sentidos (no passado) é evocado, posto à nossa apreciação, apesar de já não existir no mesmo contexto espácio-temporal do sujeito. E então, como é que ficamos: uma biblioteca ou um museu são ou não suportes físicos de memória? São. Enquanto existir gente que ao percorrê-los, consiga evocar o quer que seja, mesmo que de forma errada. O arqueólogo que interpreta de forma errónea um dado artefacto, fá-lo não por incompetência ou má fé mas porque a Ciência, enquanto mobilização da memória, vive da aproximação à realidade que se quer evocar tão próxima quanto possível da verdade objectiva, exterior ao sujeito. Acontece que qualquer evocação é sempre acompanhada de distorção e, por vezes, implica a reconstrução total do acontecimento, mesmo quando fomos actores nesse acontecimento. Um dia encontramos uma frase escrita num caderno e sabemos que fomos nós os autores da mesma, mas, por mais que nos esforcemos, não nos conseguimos lembrar o que nos motivou a escrever aquilo nem como e quando o fizémos. Resta-nos colocar hipóteses, algumas das quais, por serem consistentes, acabam por serem tomadas como factos e ficamos convencidos de que nos lembrámos da razão por que  escrevemos a frase.  A convicção torna-se quase certeza, ou mesmo certeza, porque o poder evocativo da hipótese mais consistente chega a propor-nos imagens do acontecimento que já estavam de todo apagadas da nossa memória ou que nunca nela poderiam ter estado, porque nunca as vivemos. Contudo, outra pessoa encontra a mesma frase e diz: escreveste isso naquele dia em que... e descobrimos que fomos traídos pela memória que, neste caso, se confundiu com a imaginação.

 

O conhecimento da História só pode germinar quando assumimos a impossibilidade de regredirmos ao passado, mesmo que a regressão ocorresse apenas com recurso à mentepsicose,  como acontece no filme "Youth without Youth" de Francis Ford Copolla. A Ciência teria sempre de olhar para a arqueologia mental da personagem do filme de Copolla (e do romance de Mircea Eliade) como um caso de imaginação prodigiosa - eventualmente muito proveitosa mas, ainda assim, imaginação e não memória. As duas, mais tarde, poderiam eventualmente diluir-se até a imaginação se transformar em imaginário, que constitui grande parte da memória colectiva.

 

Quero dizer, então, que, na Ciência, a memória tem origem na imaginação? Claro que sim: na imaginação que se desenvolve activamente a partir de um suporte objectivo e/ou cuja consistência e adequação ao que nos é dado a apreender pelos sentidos a habilita a transformar-se em memória colectiva, ou seja, a formar um dado quadro mental, que se inserirá, por sua vez, num paradigma mais vasto.

 

Quando escrevi, no poema do artigo anterior, que "creio (...) num só múltiplo princípio", evoco esta mesma indefinição do começo das coisas, sejamos nós mais ou menos deterministas. Contudo, o fim só pode ser um, ainda que eternamente adiado porque é inevitavemente incognoscível tendo em conta as nossas limitações corporais: esse fim é a verdade. O Juízo Final.

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publicado por Manuel Anastácio às 01:11
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