Segunda-feira, 21 de Julho de 2008
Magnólias brancas e dois haikai

 

Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, por Hayley Westenra.

 

Vai avançada a altura das magnólias brancas. Tem o meu sogro uma destas árvores de cor verde escura lustrosa que dá apenas uma flor por ano. E, ao que parece, oferece o resplendor branco da flor apenas por um dia. Uma noite passada e já as folhas esmorecem com cor de ferrugem. Nunca vi a flor dessa árvore, floresce sempre um dia antes de lá ir, mas pelo simples facto de ser única e durar apenas um dia, quando olho para essa árvore, julgo que nela mora uma fénix, invisível ao meu olhar, mas que, sem dúvida alguma, lá permanece. Em contrapartida, em Guimarães há muitas destas magnólias brancas, como estas que fotografei no parque da cidade, há uma semana atrás.

 

 

I.

Na concavidade

Clara de tépala rara,

Voluptuosidade.

 

II.

Vai ao branco a Obra

Da luz sobre os braços nus

Do dia que dobra.

Artigos da mesma série: , ,
publicado por Manuel Anastácio às 21:02
link do post | Dizer de sua justiça | Adicionar aos favoritos
7 comentários:
De Cláudio Rodrigues (Spicka) a 22 de Julho de 2008 às 14:36
Em Guimarães há muitas, sim, (http://zineocio.blogspot.com/2007/03/botnica-magnlia.html) e descobri há poucos meses atrás que em Barcelos também, mesmo ao lado do campo da feira. :) São lindas!
De Manuel Anastácio a 22 de Julho de 2008 às 15:15
Por acaso, lembrei-me desse teu post ao escrever este. :)
De Cris a 24 de Julho de 2008 às 00:53
Poderás vê-las nos Jardins do Palácio dos Biscainhos, agora Museu, se passeares pelo jardim.
Não darás o tempo por perdido, mas antes, encontrarás um motivo (vou ser ousada e dizer que encontrarás muitos!) para por lá permanecer, horas!...
Vais ver uma colecção de presépios bem portugueses, única!
Quando fores para os jardins, delicia-te a olhar o edifício do final do séc. XVII, inicio do séc.XVIII
Barroco em todo o seu esplendor, Manuel!
Vale a pena a visita, pelas magnólias, por tudo!
Vais ver como é belo "o trabalho de parto da poesia" ali!
;-)
Bom gosto o teu, Manuel.
Não percas a oportunidade de vir ver as magnólias, soberbas, não vaidosas em demasia, mas antes, belas princesas...
Até conseguirás "ouvir" o casco dos cavalos, a "castanholar" cá em baixo, naquele cháo lindíssimo que vais percorrer até abrires a porta e "entrares" no jardim.
Perde-te por lá...

Um beijo e aproveito para dizer o quanto gostei de te ler aqui, no teu texto, umas quantas palavras abaixo deste outro, e lá, na casa da "Poesia Portuguesa" da Otília(a MM)

Cris
De Manuel Anastácio a 24 de Julho de 2008 às 01:06
E Braga aqui tão perto... Obrigado pela dica, Cris.
De palavrasdealgodao3 a 28 de Julho de 2008 às 01:44
Voltei aqui, não para te falar das magnólias, de palácios, mas para te deixar, do VGM, algo de que vais gostar, e, que até conhecerás, não sei, logo me dirás :-)

alma de cântaro

uma tarde, no japão,
o paulo rocha explicou-me
as técnicas do haiku.

íamos dentro de um
autocarro a caminho
do cimo de um monte,

vendo a paisagem mais
ou menos azulada, sem dar
pelos solavancos.

sou mau aluno. faço
um exercício em casa,
sem contar muito as sílabas:

"no cântaro de barro
cresce a sardinheira:
alma em flor de cântaro?"

Delicioso, não é?
Um beijo,

Cris
De Manuel Anastácio a 28 de Julho de 2008 às 07:50
Delicioso, mas eu sigo outras regras para os meus haikai: cinco sílabas métricas no primeiro verso, sete no segundo, cinco no último. Rima entre o primeiro e o último verso; rima interna entre a segunda sílaba métrica do segundo verso e a última do mesmo verso...

É um pouco mais difícil do que o que VGM faz, benza-me Deus...
De cris a 30 de Julho de 2008 às 02:14
Agora, sim, apetecia-me um bom café, uma boa conversa. Eu, que sei o "básico" sobre o Haicai , a sério que me apetecia "saborear" este tema.
Deixei-te o poema do VGM , porque, se o leres, vais ver (começo a pensar que quem vai levar com uma série de impropérios ainda vou ser eu.. rsss …por isso, vou comentar e vou “pôr-me a toques”) como ao longo do poema "tu vês" o que é um haicai , no que consiste. Foi o que achei interessante.
Ele fala-te no Japão, ele toca no fundamento do haicai enquanto filosofia de vida, de que tudo é transitório (principio budista. em que o importante é ter a noção (interiorizar) de que nada é estanque (veja-se a forma como eles encaram a morte, p. ex., duma forma tão natural como a vida, e das vezes que se tem que "voltar" até que nos "purifiquemos".
Não há receio, há sim, a absoluta serenidade... e continuaria por aqui fora e desviar-me-ia, porque não consigo, por nada, ser concisa! Defeito meu, eu sei!). A importância que é dada ao facto de sermos fruto de uma constante mudança tal como a natureza e as estações (repara como o VGM teve o cuidado de "aprender" e te fala na primavera).
É como um voo planado, isto, numa forma muito pueril de olhar a essência deste género poético.
Vês as regras a que um haicai deve obedecer, com a estrutura métrica, por ti também usada: terceto em 17 sílabas, e a forma, atrever-me-ia a dizer, como o VGM diz ser um mau aluno a matemática (alusão à contagem das sílabas) (não é, ele sabe-o e no seu discurso, ele não é capaz de o esconder, o que, diga-se, não abona nada a favor dele. Não há bela sem senão, Manel !.)
E agora, meu caro e querido (verdade, gosto de dizer quando sinto, e chamo-te “querido” com todo o respeito, porque gosto muito deste teu espaço) prepara-te porque te vou "bater". Falas em rimas que usas nos teus haicais .
Ora, uma das regras gerais, no haicai é o "desaconselhamento das rimas e títulos, já que elas acabam por…” (e vou usar uma expressão da Gerana ) "travar”…o fluir natural dos versos e limitam o poema, retirando-lhe a sua brandura..
Não te bato em relação ao uso de títulos, porque não os usaste…

Concluindo, pois que esta conversa poderá ter pano para mangas, quem sabe, quando vieres até Bracara Augusta, foi por ter achado que, apesar de tudo, o VGM , foi buscar de uma forma clara, quanto a mim, o que consiste um haiku , que te deixei este "alma de cântaro".

Um Haicai ou Haiku é um um momento muito íntimo, vivido até à última instância, sentido intensamente, por quem o escreve. Dizer muitíssimo em tão pouco.
Como li, e, vou voltar a citar, “De referir que, no Oriente, o conceito de união entre o homem e a natureza é diferente do ocidental: o homem também é a natureza, por isso, o conceito de união remete para aquele momento específico em que o homem reconhece essa natureza a que ele também pertence.”

E vou, antes que leve com uma “raiz fasciculada”
Deus já te abençoou, Manel, quando tiveste a feliz ideia de escrever ao provedor :-) sobre aquele infeliz programa feito por parvos vestidos de meninos a fazer perguntas completamente idiotas a meninos vestidos de parvos (salvo o devido respeito por toda e qualquer criança) pelos miúdos que não têm a mínima culpa de que os pais sejam uns perfeitos imbecis que até gravam o programa em alta definição para mostrar depois aos amigos e babarem-se todos:
- ´ta a ver, rico, tão giro que o meu João Maria é, e, tão inteligente! Aquela camisola é da Gant , nota-se, não nota? Adorei! Já reparou como ele "vai" tão bem, ali, na televisão???
Bolas, que volta ao estômago!
Adorava ver a cara do provedor, ao ler o teu comentário. Queria ser mosca, acredita!

Beijo,

Cris

Dizer de sua justiça

.pesquisar