Domingo, 1 de Junho de 2008
Fábulas de Esopo: O galo e a pérola

 

Vénus reflectindo sobre o que lê. Escultura em granito, data desconhecida, Paço de Ançariz, Escudeiros, Braga. Foto minha em Creative Commons

 

Caminhava orgulhoso

Pela quinta, entre as galinhas

Um galo de porte airoso,

Quando ali entre as palhinhas

Sinal de luz percebeu.

“Cocoró, amigas minhas:

Seja o que for, será meu!”

E logo puxou para fora

O fim do desígnio seu.

E descobriu o que outrora

Alguém na eira perdera

E o desilude agora!

Uma pérola colhera

No lixo do logradouro

Que, cioso, removera.

“Decerto serás tesouro”

- Disse o galo, despeitado

“Para quem preza o ouro,

Não p’ra mim, que enganado

Por traiçoeiro luzir

Noutra coisa ia filado!

É natural preferir,

Que, sendo eu bicharada,

Me venha a sorte a servir

De só um grão de cevada

Que de um inteiro colar.”

Tal digo, que não há nada

Que se possa avaliar

Com justeza e afeição,

Se aquele que a encontrar

Não a vir com o coração.

 

(Versão de Manuel Anastácio)

Artigos da mesma série: , ,
publicado por Manuel Anastácio às 20:20
link do post | Dizer de sua justiça | Adicionar aos favoritos
1 comentário:
De Gerana a 2 de Junho de 2008 às 03:36
Bem bacana sua versão da fábula.
Sobre a foto: esta última, mais de perto, encantou-me enormemente. Deve ser realmente lindo! Andei pensando mais e acho que é um túmulo de uma menina. Reparou que o retângulo de pedra parece a de um túmulo? Aliás, você mesmo havia atentado para tal. Como mais descobrir mais coisas? Sou tão curiosa e me fascinam esses achados.

Dizer de sua justiça

.pesquisar