Por que pinta?
Não sei. Para ir onde?
Como assim?
Come como entender, não tenho nada a ver com isso.
Ah, está a brincar.
Talvez. A respeito do quê? Das pintas, ou do modo como come?
A respeito das duas coisas.
Nesse caso não estou a brincar.
A respeito do quê?
A respeito da sua liberdade individual. Segue pela pinta que quiser, come como entender.
Entendo. É por isso que pinta?
Não. Essa é uma pergunta totalmente diferente. Para a qual não tenho resposta.
E para a outra, tinha?
Qual outra tinha?
Não é justo. Retirou a vírgula.
Não é o que fazemos todos?
Fazemos?
Sim. Acho que me deu a resposta.
Dei?
Deu.
Como?
Isso é consigo. Há ali uma pastelaria que vende uns jesuítas fantásticos.
Não gosto de jesuítas.
Hum... Piada fácil: agora perguntava...
E da companhia de Jesus?
Sim. O burro e a vaca.
Como?
Muitas dúvidas tem você quanto à fome que tem.
Está a repetir-se.
Eis outra razão por que pinto.
Porque se repete?
Acha que eu me repito?
Eu não perguntei isso.
Não?
Teria perguntado, se tivesse dito: por que se repete?
Não teria perguntado nada.
Mas há pouco, perguntou.
Foi você mesmo que disse que a pergunta não tinha sido essa.
Ainda assim... É incrível como o compreendo.
Compreende por que pinto?
Não. Compreendo o que diz.
E quando pinto, acha que não digo nada?
Não sei. Nunca o ouvi a pintar.
Pois não. Mas olhe que pinto como digo.
Estou a olhar, mas não vejo pinto algum. Muito menos como diz.
Pois não. E pinta?
Não. Você é que pinta.
Acha-me com cara de pinta?
Era uma afirmação, não uma pergunta.
Pois era: é como as vírgulas.
As que se retiram?
Sim, se for na altura certa.
Como agora?
Come quando lhe apetecer.
Ai o catano...