A forma como a série “A Bíblia” tem sido apresentada pelos meios de comunicação em Portugal é bem elucidativa do nosso miserável provincianismo. Só porque um português faz de Jesus de Nazaré, empola-se logo a recetividade de um programa de televisão de baixa qualidade, que nem respeita a história factual, nem a história dita sagrada (que dá nome à série) nem as mais elementares regras do bom gosto. Cecil B. DeMille, o extravagante reinventor da Bíblia no cinema de Hollywood acrescentava os ingredientes que julgava mais sedutores (sexo, luxo e violência) ao esqueleto da narrativa bíblica e fez, à conta disso, clássicos de inegável envergadura no que diz respeito ao entretenimento. Ora, um filme bíblico é um produto de entretenimento. A teologia no cinema só funciona se renunciar à ortodoxia e ao gosto do público. Por isso, é perfeitamente natural que o melhor filme sobre Jesus Cristo, de um ponto de vista teológico, tenha sido, paradoxalmente, feito por um autor marxista cujo público é deveras limitado e “elitista”. Ora, “A Bíblia” é uma série que não é entretenimento, nem teologia nem provocação. Limita-se à sucessão de quadros mais ou menos referidos na Bíblia - mais ou menos, porque por vezes socorre-se da tradição para completar a cena e outras vezes reinventa a coisa para ficar mais dramática e falha redondamente. A evitar.