Como necrópole, esta rua. Este muro.
Esta janela. Este crepúsculo.
Névoa, geada. Translúcidos recortes de renda e sombras sobre a cortina.
Sozinha, em horizontal e funérea neblina,
Em casa débil e desprotegida, escondida,
Em leve mortalha nupcial, de musselina.
Duas casas para a frente, uma ao lado… três.
Ou o contrário. A tua vez.
Por desistência do adversário
Nada se mexe no jogo de xadrez.
Não se ergue o cavaleiro do cavalo derrubado.
O bispo é comandado pelo silêncio das torres sem ameias,
Alheias ao satânico e civil engano tumular. Insignificado.
À menina, a que os mortos devoram, através das teias,
Cada trémulo sinal de luz no seu olhar,
Vai morrendo o ar no peito,
Vendo, tremendo, o ar. Necrópole de granito.
Cidade de flores onde empalidece, aflito, o luar.
De Gerana a 16 de Dezembro de 2009 às 00:32
Nem tenho muito o que dizer agora porque, vc sabe, a primeira emoção me toma muito. Este é de chorar.
De Gerana a 17 de Dezembro de 2009 às 01:48
"Cada trêmulo sinal de luz no seu olhar,
Vai morrendo o ar no peito,"
Isto é simplesmente perfeito!
Gerana: obrigado. Perfeito, não é. Mas a sua bondade é, com certeza. Abraço
De Gerana a 17 de Dezembro de 2009 às 23:41
Qual bondade, qual nada! Uma das poucas coisas que sei é reconhecer quando um conjunto de palavras dá em verdadeira e pura poesia.
De Maria Helena a 18 de Dezembro de 2009 às 20:15
Diz um provérbio chinês que quem não sobe às montanhas, não vislumbra planícies.
Há esperas que justificam o tempo, explicam a suave beleza de um luar aflito com a palidez das noites.
Amigos e flores têm em comum o uso: quando a flor morre, a cor deixa de existir.
Dizer de sua justiça