A arte de perder é tão fácil de dominar;
A tal destino se prestam tantas coisas na vida
Que, por perdê-las, não se afigura qualquer azar.
Perde algo todos os dias e faz por concordar
com a perda das chaves ou da hora consumida.
A arte de perder é tão fácil de dominar.
Depois, pratica o perder mais e mais, sem abrandar:
lugares, nomes, ou a direção apetecida
de viagens. Nada por que te tentes a chorar.
Perdi o relógio da minha mãe. E vi escapar
três lindas casas, de uma a outra, despedida.
A arte de perder é tão fácil de dominar.
Perdi duas cidades. E, de que serve contar,
dois rios, um continente, tanta terra invadida.
Sinto-lhes a falta, mas pouco ou nada a lamentar.
E perder-te (a graça da tua voz, esse teu ar
que tanto adoro), digo em verdade desimpedida
Que a arte de perder é fácil de dominar.
Mesmo que pareça (diz!) grave coisa a lamentar.
Tradução de Manuel Anastácio