Sábado, 29 de Março de 2014
Uma arte, de Elizabeth Bishop

A arte de perder é tão fácil de dominar;

A tal destino se prestam tantas coisas na vida

Que, por perdê-las, não se afigura qualquer azar.

 

Perde algo todos os dias e faz por concordar

com a perda das chaves ou da hora consumida.

A arte de perder é tão fácil de dominar.

 

Depois, pratica o perder mais e mais, sem abrandar:

lugares, nomes, ou a direção apetecida

de viagens. Nada por que te tentes a chorar.

 

Perdi o relógio da minha mãe. E vi escapar

três lindas casas, de uma a outra, despedida.

A arte de perder é tão fácil de dominar.

 

Perdi duas cidades. E, de que serve contar,

dois rios, um continente, tanta terra invadida.

Sinto-lhes a falta, mas pouco ou nada a lamentar.

 

E perder-te (a graça da tua voz, esse teu ar

que tanto adoro), digo em verdade desimpedida

Que a  arte de perder é fácil de dominar.

Mesmo que pareça (diz!) grave coisa a lamentar.

 

Tradução de Manuel Anastácio

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publicado por Manuel Anastácio às 12:26
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