Outros deixarão o mesmo rasto
de poeira luminosa e gratidão.
Outros caminharão sobre os verdes pastos
da imensidão onde foste pastor.
Outros deixarão poemas
na forma de frases simples, claras
e sem outro sentimento que o sentimento
a que se dá o nome de Verdade.
Outros caminharão na estrada da Liberdade
E como tu, não se calarão
Nem no perfeito mergulho na Eternidade.
Sábado, a Wikipédia faz anos. Quem tiver paciência para me aturar a meter os pés pelas mãos poderá ver-me e ouvir-me ao vivo, como orador, nas celebrações, em Portugal, no Instituto Superior Técnico em Lisboa. Como histórico wikipedista, vou falar do nascimento desta instituição. Façam aqui a vossa inscrição. Devo aparecer, também, algures, na revista do Diário de Notícias desse dia.
Há dias, a reboque da Maria Helena, fiz um presépio agnóstico no Facebook que tantas alegrias me deu pelos comentários recebidos como em tristezas me mergulhou pelos mal-entendidos a que deu origem.
Hoje, em casa, fiz este presépio. Com peças Made in China e musgo, pedras e paus da Penha de Guimarães. Há muito tempo que não fazia um presépio. Um dos que fiz na casa onde nasci (dos presépios mais fraquinhos que fiz) pode ser visto, à data de hoje, numa fotografia no artigo "Presépio" da Wikipédia (prometo um poema dedicado a quem descobrir o pormenor subversivo incluído nesse presépio)..
Eu gosto de presépios. Mesmo sendo agnóstico. Ou, talvez, porque sou agnóstico.
Este é o meu postal de Natal para todos, sejam crentes, descrentes, católicos, protestantes, adeptos de seitas, religiões falsas, da verdadeira, ou da assim-assim. Deus, a Luz, a Força, a Bondade, a Justiça e o Calor esteja convosco.
Prometo dois poemas dedicados a quem descobrir o pormenor herético incluído neste presépio.
Cada um dá o que pode, a quem o quiser.
Só para não julgarem que estou em coma (e também para me vangloriar um pouco), deixo-vos esta pista sobre o que é que tenho andado a fazer enquanto deixo este blogue quase às moscas. Que, às moscas, não ficou de facto. Há sempre alguém a deixar palavras dignas de registo nos comentários.
Gilbert Bécaud - L'important c'est la rose
Não sei se é numas das premiadas traduções de Jorge Luís Borges pelo João Barrento que aparece, a dado momento, a respeito da teologia trinitária, que o Espírito Santo está em eterna procissão em relação ao Pai. Das duas, uma, e ninguém me esclarece: ou o erro saiu do lápis do João Barrento e foi mantido, tendo em conta a sua autoridade intelectual, prescindindo-se de qualquer revisão do texto, ou o revisor não conhecia a palavra processão e decidiu mudar o e para um i. Afinal, estava-se a falar de coisas de padres, é bem provável, que o Espírito Santo ande por aí, em eterna procissão, talvez de autocarro, os cegos dos ateus é que não veem. Ainda assim, faz-me impressão a ligeireza com que os livros são dados à estampa em Portugal, mesmo quando os autores são gente consagrada, ou especialmente nesses casos. Somos um país de Doutores. Toda a gente sabe isso. Até me envergonho de estar a escrever tamanha banalidade. Mas é verdade. Portugal é um país de Doutores. Muitos dos quais, no topo das suas cátedras e escorados em antolhos têm uma especial predisposição à Mourinho para estarem constantemente a posar para um retrato de absoluta autoridade. São esses Doutores que dizem que a blogosfera é um antro de escritores falhados. E não falharão muito nisso, mas também não faltam escritores falhados fora da blogosfera - eu tenho para mim que todos os escritores são falhados, caso contrário, não escreveriam. Escrever é um eterno ato de compensação por uma falha qualquer. É o Inferno em eterna processão em relação ao buraco espiritual que, qual buraco negro do CERN, os positivistas ateus e agnósticos experimentam no coração. Se forem ateus ou agnósticos. Há escritores crentes, mas até esses têm de trazer heresia no sangue para que sejam, de fato, escritores. Têm que ter uma falha. Caso contrário, estão no Paraíso. E no Paraíso está tudo escrito. O Corão, linha por linha, e a Bíblia também. Ninguém precisa de escrever nada. As pessoas perfeitas nem sequer precisam de ler. São elas mesmas a literatura. Lerem-se, seria a autoreferência, e a autoreferência é o paradoxo. E o paradoxo levaria ao fim do mundo. Leva ao fim do mundo. O Mundo provavelmente não existe, porque é que eu hei de estar aqui a preocupar-me? São esses Doutores, alguns deles falhados o suficiente (só que não sabem) para escreverem na blogosfera, que dizem que a Wikipédia tem erros porque é anárquica, e não percebem que há erro em todo o lado, até nas suas cabecinhas laureadas. Deus pôs o fruto proibido ali à mão da coisa porque queria erro. Queria tempo. O tempo é erro. É falha. É a heresia escrita por Deus.