Quarta-feira, 2 de Novembro de 2011
Ao virar da manhã, de Tomas Tranströmer ("17 Poemas", 1954)

A formiga-da-madeira silente vigia, e olha

para nada. E nada se ouve, antes goteja da negra

folhagem e dos suspiros profundos da noite

no desfiladeiro do verão.

 

O abeto ergue-se como ponteiro de relógio

em espinhos. A formiga reluz na sombra do monte.

Grita um pássaro! E, por fim. As nuvens amontoadas, lentas

iniciam a retirada.

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publicado por Manuel Anastácio às 00:00
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Terça-feira, 1 de Novembro de 2011
Há Paz na Proa que Avança, de Tomas Tranströmer ("17 Poemas", 1954)

Numa manhã de inverno sentes como esta terra

mergulha em frente. Contra as paredes das casas

uma corrente de ar, beija-nos

fora do seu abrigo.

 

Rodeada de movimento: a tenda do sossego.

E o leme secreto do rebalho em migração.

Saído da escuridão invernal

sobe um tremolo

 

de instrumentos escondidos. É como estar

debaixo de altas tílias com o zunir

de dez mil

asas de insetos sobre as nossas cabeças.

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publicado por Manuel Anastácio às 23:39
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Contexto, de Tomas Tranströmer ("17 Poemas", 1954)

Olhai a árvore cinzenta. O céu correu pelas

suas fibras descendo à terra-

só uma nuvem encolhida fica esquecida quando

a terra se embriaga. Espaço roubado

retorcido em pregas, entrelaçado

com verdura. - Os breves momentos

de liberdade crescem em nós, vórtice

através das parcas e mais além.

 

Versão de Manuel Anastácio

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publicado por Manuel Anastácio às 23:13
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Sexta-feira, 28 de Outubro de 2011
As pedras, de Tomas Tranströmer ("17 Poemas", 1954)

As pedras que atirámos, ouço-as
cair, cristalinas, ao longo dos anos. No vale,
as confusas ações de um instante
voam chiando de
copa em copa e silenciam-se
e desvanecem-se mais que o agora, deslizam
como andorinhas de cume
em cume, até que tenham
atingido o mais afastado dos planaltos
ao longo da fronteira do ser. Onde todos
os nossos atos caem
cristalinos
sem mais sítio em que cair
que não em nós mesmos.
Versão de Manuel Anastácio, a partir da versão em inglês de Robin Fulton
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publicado por Manuel Anastácio às 22:29
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Meditação inquieta, , de Tomas Tranströmer ("17 Poemas", 1954)

Uma tempestade roda selvaticamente as pás do moinho
na escuridão da noite sem nada moer. -Tu
manténs-te desperto segundo as mesmas leis.
O ventre do tubarão-cinzento é a tua fraca candeia.

Recordações amorfas afundam-se no oceano
e enquistam aí em esquisitas colunas. -Verde
de algas é o teu assento.  Um homem
que vá para o mar volta endurecido.

 

Versão de Manuel Anastácio, a partir da versão em inglês de Robin Fulton

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publicado por Manuel Anastácio às 22:04
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