A formiga-da-madeira silente vigia, e olha
para nada. E nada se ouve, antes goteja da negra
folhagem e dos suspiros profundos da noite
no desfiladeiro do verão.
O abeto ergue-se como ponteiro de relógio
em espinhos. A formiga reluz na sombra do monte.
Grita um pássaro! E, por fim. As nuvens amontoadas, lentas
iniciam a retirada.
Numa manhã de inverno sentes como esta terra
mergulha em frente. Contra as paredes das casas
uma corrente de ar, beija-nos
fora do seu abrigo.
Rodeada de movimento: a tenda do sossego.
E o leme secreto do rebalho em migração.
Saído da escuridão invernal
sobe um tremolo
de instrumentos escondidos. É como estar
debaixo de altas tílias com o zunir
de dez mil
asas de insetos sobre as nossas cabeças.
Olhai a árvore cinzenta. O céu correu pelas
suas fibras descendo à terra-
só uma nuvem encolhida fica esquecida quando
a terra se embriaga. Espaço roubado
retorcido em pregas, entrelaçado
com verdura. - Os breves momentos
de liberdade crescem em nós, vórtice
através das parcas e mais além.
Versão de Manuel Anastácio
Uma tempestade roda selvaticamente as pás do moinho
na escuridão da noite sem nada moer. -Tu
manténs-te desperto segundo as mesmas leis.
O ventre do tubarão-cinzento é a tua fraca candeia.
Recordações amorfas afundam-se no oceano
e enquistam aí em esquisitas colunas. -Verde
de algas é o teu assento. Um homem
que vá para o mar volta endurecido.
Versão de Manuel Anastácio, a partir da versão em inglês de Robin Fulton