Segunda-feira, 1 de Abril de 2013
Recortes 2

“Then there’s a story which illustrates the kind of pun that is not customary in literary society. The story of the boy scout who helped a nun across the street. And the nun thanked the lad who replied: That's all right Madame, any relative of Batman is a friend of mine! (1)”

Marshall McLuhan - The Medium Is the Massage

 

(1)"Depois há a história que ilustra o género de trocadilho que não é habitual na sociedade literária. A história do escuteiro que ajudou uma freira a atravessar a estrada. E a freira agradeceu ao rapaz, que lh respondeu: "De nada, Madame, quem quer que seja da família do Batman é amigo meu."

 

santo agostinho percebia

de cenas por isso

escreveu amo: uolo it sis

martin heidegger sabia

talvez de piropos por isso

disse amo: uolo ut sis


Tatiana Faia, Relâmpago

Revista de Poesia 29-30

out 2011 abril 2012


 

As livra­rias que per­sis­tem são como as igre­jas que per­sis­tem: descaracterizaram-se em casas de show e casas de chá a fim de mera­mente sobre­vi­ver. Abra­ça­ram a indig­ni­dade de dei­xar de ser o que eram em troca da ilu­são de per­sis­tir. Como todos nós, per­dem a iden­ti­dade no deses­pero de mantê-la.


Paulo Brabo, A Forja Universal



Vocês mentem com certeza! Vocês mentem todos.

Mentem constantemente e gostam de mentir

e de acreditar que não mentem. Vocês mentem a si próprios.

Isso é que é grave. Porque eu não minto a mim próprio.

Eu tenho a franqueza de confessar que minto, que sou um mentiroso.

Mas vocês, vocês são uns cobardes. Escutam-me e pensam: coitado!

E aproveitam-se da minha franqueza para dissimular as vossas mentiras.

Apanhei-os! Sabem, minhas senhoras e meus senhores,

por que é que lhes disse que mentia, que gostava da mentira?

Não era verdade. Era somente para os atrair a uma armadilha

e para chegar a uma conclusão, para compreender.

Eu não minto. Eu nunca minto. Detesto a mentira e a mentira detesta-me.

Menti apenas quando lhes disse que mentia.


Vejo agora os vossos rostos que se desfiguram.

Cada um gostaria de fugir do seu lugar e receia ser interpelado por mim.


Jean Cocteau, O Filho do Ar, trad. Gastão Cruz



Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão

Porque os outros têm medo mas tu não.


Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.


Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo.

Porque os outros são hábeis mas tu não.


Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar Novo


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publicado por Manuel Anastácio às 02:04
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Segunda-feira, 25 de Março de 2013
Recortes 1

Existem (...) outros modos de se distribuir e de se apropriar do tesouro da perspectiva: a literatura não é o menor deles, e trata-se por certo de material mais inflamável do que o sistema educacional (que foi projetado em grande parte para permanecer inofensivo: uma daquelas grandes instituições genéricas internamente estruturadas de modo a fazer todo o possível para não chegar a fazer o bem que poderia fazer).

 

A pers­pec­tiva é um mila­gre da graça, por­que quanto mais pers­pec­tiva você acu­mu­lar, com insis­tên­cia cada vez maior ela irá convidá-lo a cobrir com assom­bro, tole­rân­cia e admi­ra­ção a dis­tân­cia entre o nor­mal do outro e o seu. E, se o seu nor­mal é o extra­or­di­ná­rio do outro, e se há mui­tos outros e um único você, o mundo e os outros só dei­xa­rão de pare­cer extra­or­di­ná­rios e dig­nos de admi­ra­ção se você dei­xar: se você inves­tir recur­sos sufi­ci­en­tes na tarefa de reduzir-se a pes­soa mes­qui­nha o bastante.

 

(...) tal­vez seja mais acer­tado você não lamen­tar não ser rico o bas­tante para poder via­jar como gos­ta­ria, por­que o modo mais enri­que­ce­dor de se via­jar é não sendo rico.

Paulo Brabo, A Forja Universal

 

 

“Practice doesn’t make perfect, practice makes permanent.”

Dr. Noa Kageyama, How Many Hours a Day Should You Practice?

 

Eu acho que um psiquiatra deveria diagnosticar ao PS "transtorno bipolar colectivo". Sintoma: Apresenta uma moção de censura a este Governo e ainda não rejeitou o memorando da troika.

Alguém em conversa comigo

 

 

 

 

14

 

quando a maré se afasta

é possível escrever tudo

 

outra vez

Gil T. Sousa, Água Forte

 

 

A minha alma. A minha alma

é como terra dura que calcam sem a ver

cavalos e carroças e pés, e seres

que não existem e de cujos olhos

brota o meu sangue hoje, ontem, amanhã. Seres

sem cabeça cantarão sobre o meu túmulo

uma canção incompreensível. E

dividirão entre si os ossos da minha alma.

A minha alma.

Leopoldo Maria Panero,

tradução de Joaquim Manuel Magalhães

 

 

Revista Sábado, Escola Google sem computador. Um artigo mauzinho para um tema que poderia dar em muito mais.

 

 

Bartoon, Luís Afonso: A Crise para totós

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publicado por Manuel Anastácio às 01:25
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