Segunda-feira, 6 de Novembro de 2006
Flores de pedra II

Espigas - Capelas Imperfeitas, Mosteiro da Batalha

Não griteis em vão, guerreiros,
Que vos preparais para a Batalha
Onde a luz do sol há-de vencer.
Não griteis em vão.
Porque não é no grito
Mas no gesto
Que a luz se transforma em pão.

Envergai com orgulho as lanças quebradiças.
Um dia virá
Em que a haste do trigo vergará o aço.
E onde estareis vós, guerreiros,
quando essa Batalha
fizer escorrer seiva em vez de sangue?

Onde estareis vós?

Não griteis em vão
Porque no grito que é dado sem dor,
mas apenas com arremedo de coragem,
Não há som nem decisão.
Gritai apenas quando sentirdes o ferro na garganta.
Gritai apenas quando o sangue vos sufocar a voz
e esta vos fluir pastosa e vermelha,
em bagos,
como no milho-rei desfolhado pela mulher
que julgarás beijar
quando se dissolver a luz entre as ervas rasteiras
que te limitam o horizonte.
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publicado por Manuel Anastácio às 22:21
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Sexta-feira, 13 de Outubro de 2006
Flores de pedra I

Arcaz tumular no Museu Arqueológico de Barcelos (Paço dos Duques de Bragança).

Tanta morte, havendo vida,
Nestas  flores
Rompendo em dores dos cristais!
Além, também, das cores de pedra:
Como esse rosa em mica florida,
Sobre o duro fundo que medra
Fungos sobre sinais.

Até sobre flores eternas
Recai o Outono.

Até a mais pesada pedra
Pode cair em silêncio sobre um corpo, sem causar dor .

Feliz ideia, a de um túmulo despojado do morador.

Nem os coveiros de Hamlet sabiam o que diziam:
Não há moradas eternas. Nem para a morte.
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publicado por Manuel Anastácio às 21:23
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