Nas fotos: Aquilegia vulgaris, Pombeiro de Riba Vizela, Felgueiras.
A essência da poesia é a repetição tornada não redundante pela variação. Isso é verdade para a literatura, mas também para a música, para a arquitectura, para a dança e para todas as artes que reclamem para si o desejo de dar uma ordem sublime ou significante - ou, simplesmente, interessante - a uma das mais arbitrárias medidas da percepção: o ritmo.
A Maria Helena pergunta-me se a repetição (sorte tenho eu em não dizer ela redundância...) é intencional. É, claro.
Intencional a repetição de gostos (ó) e de desgostos (ó) - estes últimos ainda por estrear.
Intencional a repetição de títulos e de articulações entre matérias e materiais e, especialmente, entre o orgânico e o inorgânico, o fútil e o sublime, o público e o privado, o partilhável e o impartilhável, o significante e o assignificante. Intencional a repetição sucessiva de referências geográficas que funcionam como unidades estróficas.
A repetição inscrita nestas variações entre extremos serve-me de meio expressivo. Dá-me a ilusão de criar um espaço independente a partir dos espaços que piso. A ilusão de que as léguas de terra que devoro (citando Adolfo Rocha...) me concedem um pingo da sua lenta efemeridade nos segundos a que a elas sacrifico o meu olhar. Dá-me a ilusão de estar a dizer algo.
Mesmo que não tenha nada (mais) a dizer. Como quem reza o terço.