Quinta-feira, 17 de Agosto de 2017
Os filhos não devem ser o mais importante numa família, por John Rosemond

O seguinte texto foi escrito por John Rosemond, um psicólogo (ainda que a sua licença para exercer não esteja reconhecida em alguns estados dos Estados Unidos) que está longe de ser um exemplo na sua classe profissional. Entre as nódoas que lhe sujam o currículo estão alguns conselhos inapropriados que deu a pais para que os filhos deixassem de ter acompanhamento psicológico, além de defender publicamente que crianças abusadas sexualmente não necessitam de qualquer ajuda psicológica profissional. A sua filosofia resume-se na ideia de que o modo antigo de criar os filhos é a mais correta e a que melhores resultados deu ao longo da história. É um psicólogo que resume a psicologia a uma fé, sem verdadeiro fundamento racional, como qualquer fé, embora eu desconfie que ele não seja tão desdenhoso em relação a outros tipos de fé. Eu também tenho as minhas quezílias com esta tão volúvel e discursiva ciência, mas é questão que não pretendo desenvolver neste artigo em particular. O texto que se segue é a tradução de um artigo seu, cuja leitura me parece aconselhável. Até num jardim envenenado nascem flores e, no meio de algumas passagens que me parecem mera propaganda republicana, nacionalista, tradicionalista e autoritarista, há um conselho a reter e que, além de me parecer apenas bom senso, parece-me empiricamente conforme à realidade. Vem de quem vem. Mas seria bom reflectir no assunto e que o mesmo fosse abordado de forma séria por psicólogos... a sério.

 

Os filhos não devem ser o mais importante numa família

 

Perguntei recentemente a um casal com três filhos, nenhum dos quais ainda na adolescência, “Quais são as pessoas mais importantes da vossa família?” Como todas as boas mamãs e papás deste admirável novo milénio, responderam: “Os nossos filhos!”

 

“Porquê?”, perguntei então. “O que é que dá aos vossos filhos esse estatuto?”, e como todas as boas mamãs e papás deste admirável novo milénio, não conseguiram responder à questão a não ser através de alguns apelos atrapalhados à emoção.

 

 

Por isso respondi, por eles, à questão. “Não há nada que torne razoável dar esse estatuto às vossas crianças.” E expliquei-lhes que muitos, se não a maioria dos problemas que eles tinham com os filhos - coisas típicas, hoje em dia - são o resultado de tratarem as suas crianças como se eles mesmos, o seu casamento e a sua família existissem por causa das crianças, quando, na realidade, é o contrário. Os filhos existem por causa deles e do seu casamento, e prosperam porque estes estabeleceram uma família estável. Além do mais, sem eles, os seus filhos não teriam uma alimentação adequada, não teriam as boas roupas que vestem, não viveriam na casa confortável em que vivem, não teriam as férias fantásticas que têm, e por aí fora. Em vez de terem vidas que são relativamente despreocupadas (apesar dos dramas que ocasionalmente tecem e que fazem crer no contrário), os seus filhos teriam, sem eles, uma vida cheia de preocupações e necessidades.

 

 

Este é ponto central da questão. As pessoas da minha idade sabem que este é o ponto central da questão porque quando éramos crianças, era para nós claro que os nossos pais eram a parte mais importante das nossas famílias. E era por isso, e exactamente por causa disso, que respeitávamos os nossos pais e era exactamente por causa disso que admirávamos os adultos em geral.

 

 

Sim, Virgínia, há algum tempo atrás, nos Estados Unidos da América, as crianças eram, para o seu bem, cidadãos de segunda classe.

 

 

Também era claro para nós - falo, claro, em termos gerais, embora de forma justa - que o casamento dos nossos pais era mais importante para eles que a sua relação connosco. Por isso, não dormíamos nas camas deles nem interrompíamos as suas conversas. A refeição em família, em casa, era vista como mais importante que as atividades extra-escolares. O papá e a mamã falavam muito mais um com o outro que connosco.

 

 

Como não estávamos num pedestal, emancipámo-nos mais cedo e com mais sucesso que as crianças que vieram depois.

 

 

A pessoa mais importante num exército é o seu general. A pessoa mais importante numa empresa é o seu Diretor. A pessoa mais importante numa sala de aulas é o professor. E as pessoas mais importantes numa família são os pais. A coisa mais importante para as crianças é prepará-las adequadamente para uma cidadania responsável. O principal objetivo não deve ser criar um estudante que só tira boas notas e é o maior em três modalidades desportivas diferentes, com lugar na equipa olímpica de natação e numa universidade de topo, e que se tornará um cirurgião neurologista proeminente. O principal objetivo é criar uma criança que venha a fortalecer a cultura e a comunidade.

 

Dizer “a nossa criança é a pessoa mais importante na nossa família” é o primeiro passo para criar uma criança que julga ter autoridade para fazer o que lhe apetece. Não vai querer isso. Que a sua criança não o saiba, porque ela não precisa disso. Nem a América.

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publicado por Manuel Anastácio às 16:18
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Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015
Educação do meu imbigo

Do ponto de vista da direita, os melhores professores estão na escola pública. São mais bem pagos (pelo menos se não tiverem tido as carreiras congeladas desde o tempo do Sócrates) e, por enquanto, são um pouco mais bem tratados que os dos privados que, se o patrão quiser, vão limpar sanitas. Nada contra limpar sanitas. Mas parece-me que não seja tarefa com mais valia pedagógica. 

Do ponto de vista da direita (PS, PSD e PP, caso não saibam distinguir), os melhores vão para onde o seu excelente desempenho é valorizado. Assim provo o que acima é sustentado.

Porém, para a direita, com os seus rankings e sistemas de avaliação de professores e de valorização do desempenho de escolas, as melhores escolas são do privado.

Partindo agora do princípio que boas escolas têm bons professores... está a falhar-me o silogismo...

...será preciso contratar os professores que escrevem com erros de ortografia.

Porra, o que é que está a falhar no meu raciocínio?

publicado por Manuel Anastácio às 22:26
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Segunda-feira, 13 de Setembro de 2010
VII

Segundo Rodrigo Moita de Deus, o dinheiro gasto em Educação é despesa, não é investimento. E o Paulo Guinote deixa passar a coisa. Estamos bem.

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publicado por Manuel Anastácio às 00:01
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Sábado, 5 de Junho de 2010
Uma educação socialista?

Em resposta a um texto bem intencionado do meu professor Ramiro Marques:

 

O verdadeiro socialismo é devedor da cultura cristã e do conceito de igualdade que Ramiro Marques, neste texto, aponta como sendo a sua marca principal. Não concordo com a contínua associação entre a palavra "socialismo" (que não é a ideologia do PS) e a degradação da escola pública. O grande problema da escola pública é a sua má interpretação do conceito de igualdade, já que dar o mesmo a todos nem é justo nem sequer igualitário, porque alguns sempre terão meios de ultrapassar a mediocridade fugindo da escola pública ou acedendo a serviços que farão aquilo que a escola não é capaz de fazer, enquanto que outros se manterão apenas à tona de um mínimo de exigência e da possibilidade de desenvolverem as suas competências e conhecimentos, afastando qualquer hipótese de mobilidade social e, pior ainda, qualquer possibilidade de contributo da escola para a sua realização pessoal enquanto indivíduos ou para a formação de cidadãos conscientes e empenhados na construção de uma sociedade mais justa, mais criativa, mais produtiva... Não esqueçamos que os antigos países de orientação socialista, com todos os seus defeitos crassos a nível de liberdades fundamentais que negavam aos seus cidadãos conseguiram algo que se tem transmitido às novas gerações: a consciência de que só com trabalho e empenho se conseguem atingir aqueles objectivos com que os professores enfeitam as suas planificações e outros documentos considerados essenciais pelos inspectores escolares e avaliadores voluntários ou à força - e que o são, de facto, para a manutenção de um sistema de pura ficção, de mentira, de propaganda, de agravamento das desigualdades entre os cidadãos e da criação de uma cidadania de bovinos incapazes de qualquer sentido crítico, presos aos mais baixos instintos animais sem que neles haja a mínima orientação ou luz civilizacional. O socialismo é uma dessas luzes civilizacionais, tal como a tradição judaico-cristã, a greco-romana, a renascentista-humanista e a iluminista. Culpar o socialismo da degradação da escola é dizer que temos tido em Portugal uma educação de orientação socialista, o que é falso. Temos tido, isso sim, uma escola orientada por um discurso de retórica socialista sem qualquer preocupação real quanto ao papel da escola na vida dos cidadãos e na evolução da sociedade. O objectivo do socialismo é também a revolução. Julgar que temos tido uma educação para a revolução é ridículo. Temos tido, isso sim, uma educação para a passividade, para a anestesia, para a inanidade intelectual e para a reprodução cada vez mais dolorosa das desigualdades sociais.

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publicado por Manuel Anastácio às 17:50
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