Sexta-feira, 8 de Outubro de 2010
Enciclopédia Íntima: Airo

Airo, arau-comum (Uria aalge)

 

 

- Porque é que os ursos polares não comem pinguins?...

Os meus alunos olham-me entre o tédio, a indiferença e o interesse calculado. Vão dando as suas sugestões. São venenosos. Sabem mal. São mais espertos que os ursos - os pinguins, segundo eles, não os alunos (espertos, digo eu).

- Há pinguins em Portugal?

Eu disse, um dia, que não. Mas como estava a jogar Trivial Pursuit, errei. As respostas do Trivial Pursuit estão sempre certas, mesmo quando estão erradas (há aquela cena do Seinfeld sobre os Moops, conhecem? Não? Aqui vai, abençoado Youtube:

 

Quem invadiu a Espanha (Espanha? Península Ibérica, seus jerks!) no século oitavo? Os moops ou os moors?

 

Fecha parêntesis e ponto final. (...) Segundo a versão portuguesa do Trivial Pursuit que eu estava a jogar, havia pinguins em Portugal. Faz-me isso lembrar a altura em que uma colega minha fez uma apresentação sobre plantas em Marte e eu demonstrei a minha arrogância (é como classificam a minha atitude de espanto perante a burrice extrema) ao perguntar repetidamente: "há plantas em Marte?" - e, perante a minha colega que dizia que, se eu quisesse, me dava a bibliografia, eu volta a perguntar: "estás a dizer que há plantas em Marte?". E ela dizia que sim. O tal livro que ela tinha consultado dizia que sim. Nunca consultei o livro, mas devia ser "O Noddy em Marte" ou qualquer coisa do género - bibliografia ao nível do melhor que se publicou na Science ou na Nature. Eu juro que a história é verdadeira mas, obviamente, não vou citar o nome da minha colega. Já me basta ter citado o nome de outra colega minha, de nome Filomena Baião, que foi, provavelmente, a pessoa mais asquerosa que me passou à frente, juntamente com o parolo do João Sebastião, que agora é moço de recados do governo actualmente em funções - sabendo eu que os dois já aqui devem ter caído guiados pela sacrossanta mão do Anjo Google, e ficado a saber que um tal de Manuel Anastácio, que já foi aluno deles, disse cobras e lagartos dos mesmos. A Filomena Baião era um ser repelente que acabou por me levar, a mim, criançola que era, a agir de forma igualmente repelente, e o João Sebastião é um dos arautos da igualdade, sendo o primeiro a discriminar de forma vergonhosa e humilhante, para além de ser um péssimo professor e pior pessoa. Isto é só para ter a certeza que eles voltam aqui, guiados pelo Google e pela falta de vergonha na cara que não devem ter ganho entretanto. Por isso repito os nomes: João Sebastião (estás a ouvir, Google? João Sebastião - aquele dos estudos sobre os ciganos, que deu aulas ou uma coisa a que se chamava aulas na ESE de Santarém, e Filomena Baião, aquela gaja que deu aulas no Sardoal e se gabava, no alto da sua indigência intelectual, de ser licenciada!... LOL... Por esta altura, já deve ter o Doutoramento Honoris Causa). Adiante, que se faz tarde. Perdoem-me o lavar de roupa suja em público, mas é uma atitude mais ecológica - isto de usar máquina de lavar aumenta muito as emissões de dióxido de carbono. O lavadouro público com a laje de granito, o sabão macaco e o alguidarzinho com OMO é outra coisa. É de gente pobre, mas como diria o Jacinto do Eça, na primeira noite em Tormes, ao cheirar os lençóis, "ao menos cheira a sadio...". E... onde é que eu ia?... Pois, sei lá. Eu divago, e já dei a mão à palmatória quanto a isso. Mas não sei escrever de outro modo. Quando não divago, não me sai nada de jeito. Se escrevesse um romance, seria como Joyce. Ninguém perceberia nada, mas seria uma obra prima.

Ora, eu queria falar de airos, também chamados de araus-comuns. São uns passarocos (aves, Manuel... aves: passarocos é linguagem popular chula) que vivem nas Berlengas, de nome científico Uria aalge, da família dos Alcídeos. Vivem nas Berlengas, que não ganharam o lugar no pódio de sete lugares das Maravilhas Naturais de Portugal, e muito bem, porque são uma série de rochedos cobertos de caca e gaivotas mortas. E, segundo o Trivial Pursuit, são Pinguins... Os airos, não as gaivotas mortas - os tipos da edição portuguesa do Trivial podem ser os mesmos que tentaram a primeira versão de uma Playboy à portuguesa, mas não devem ser assim tão estúpidos. Agora um pássaro (ave, Manuel: ave!) passa a ser pinguim só porque é branco e preto, forma colónias quando procria (pro! Menino Joãzinho, pro! - não é "cadáver adiado, que porcaria!" é "cadáver adiado que procria!" - ai coitado do Fernando Pessoa), anda em pé em terra e é excelente nadador, batendo as asas debaixo de água por vários minutos e usando as patas como leme?... (pausa) Passa? Parece que passa... Não é essa a definição de pinguins?... Talvez seja para a maioria inculta da humanidade (onde eu me incluo, apesar de jamais conceder razão a quem diz que existem pinguins em Portugal sem ser no Jardim Zoológico). Mas não é assim para Deus que, assessorado por Darwin e Francis Crick (que o Watson ainda esta semana em Portugal esteve, sem intenção disso, a fazer campanha pelo PSD ao lado do Marcelo Rebelo de Sousa, Leonor Beleza e o Passos das caganitas) sabe perfeitamente que são exemplos de evolução convergente. Os pinguins e os airos, chegaram à mesma forma e mesmo estilo comportamental por caminhos diferentes e com antepassados diferentes. Que lição nos dá a Natureza. Bresson no seu melhor: oh Jeanne, que raio de merda de caminho tive eu de andar para chegar até ti...

 

Cena final de Pickpocket, 1959, de Robert Bresson
Pois, e como já deviam saber, os ursos polares não comem pinguins, porque os ursos polares vivem no Polo Norte e os pinguins vivem no Polo Sul.
Ah: e os airos sabem voar, ao contrário dos pinguins. Voam mal, mas melhor que eu.
Artigos da mesma série:
publicado por Manuel Anastácio às 21:04
link do post | Dizer de sua justiça | Adicionar aos favoritos
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2009
Ninfas

Cisnes brancos, foto de S Sepp em Creative Commons e GFDL.

 

Hoje (ontem, em relação à data de publicação deste artigo) a Wikipédia fez oito anos. O colega Eduardo Pinheiro foi à Antena 3 falar sobre aquele que, para mim, é o maior feito da Internet desde que se decidiram juntar computadores a uma escala global. É há de continuar a ser. Entretanto, penso em implementar projectos a nível da escola, para que possa, de novo, voltar a participar naquele projeto que tanto amo sem que tenha de roubar tempo às atividades de carácter pedagógico. O que é complicado. É que os computadores da escola são claramente insuficientes para fazer algo do género, e os computadores da e-escola continuam por aparecer para a grande maioria dos alunos (será que serão entregues na próxima legislatura?).

 

Hoje andei às voltas com a palavra "ninfa", no que diz respeito às metamorfoses dos insectos. Ensinei numa aula que é a fase intermédia entre a fase larvar e o inseto adulto. Depois, li algures: "o gafanhoto passa por metamorfose simples, passando apenas por uma fase larvar ou ninfa". E fiquei confuso. Teria, na próxima aula, de fazer errata das minhas afirmações. Não sou propriamente dos professores que nunca erram e raramente têm dúvidas. E há muitos destes últimos: não me refiro apenas a um certo professor de economia. E, ao contrário da maioria dos meus colegas, não tenho medo de responder "não sei" às perguntas que os alunos fazem (e são muitas), apelando à sua própria pesquisa. Contudo, não é assim. Julgo eu, agora. Ninfa é uma palavra utilizada indiscriminadamente, em português, tanto para definir a forma larvar já algo semelhante ao imago (insecto adulto) dos insetos hemimetabólicos, como a cigarra, como para se referir à fase inativa, intermédia entre larva e imago nos insetos holometabólicos. Como é hábito, a nomenclatura científica em português é confusa a esse respeito. A Wikipédia reflete essa confusão e o artigo Ninfa da Wikipédia em português ainda não esclarece a confusão. Mas há de esclarecer. Acredito que a Wikipédia serve como centro gerador de conteúdos científicos. Sei que os académicos portugueses fogem da Wikipédia-cruz-credo-canhoto-canhoto como o diabo supostamente foge da cruz, mas isso é apenas sinal do provincianismo da nossa elite cultural. Os conteúdos da Wikipédia estão sujeitos a muitos erros, mas ao abrir os portões à participação de todos, principalmente aos não especialistas, está-se a criar um ponto de referência que poderá congregar e descodificar a linguagem obscura que os académicos portugueses tanto gostam de cultivar, para mal do progresso da Ciência em território nacional. E grande parte dessa obscuridade advém de cada académico usar as palavras de forma rigorosa, admito-o, mas cujo rigor se limita ao campo lexical da sua panelinha que, provavelmente, difere de Universidade para Universidade. Um país tão pequeno com tamanho separatismo vocabular a nível das elites é coisa que espanta. A coisa piora, claro, quando passamos a englobar nestas diferenças académicas as versões brasileiras (que as outras lusófonas ainda não têm qualquer expressão). É por isso que é importante cutivar a Wikipédia em português: porque é o único recurso que temos para podermos vir a compreender tanta gíria obscurantista. A Ciência é só uma. A sua linguagem devia ser também, tendencialmente, una. A Wikipédia Lusófona é ainda apenas um reflexo fantasmático do que poderá vir a ser um dia. Mas está a dar frutos. Não nela própria, mas fora das suas fronteiras, entre outras fontes ditas mais confiáveis que começam a reagir criando e disponibilizando conteúdos que, não fosse a Wikipédia, se manteriam nos cofres dos senhores ciosos da sua egoísta sabedoria.

Artigos da mesma série: , ,
publicado por Manuel Anastácio às 00:13
link do post | Dizer de sua justiça | Quem disse o que pensou (9) | Adicionar aos favoritos
Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2009
Curtíssima (comprida) 3

Besouro-das-rosas (Cetonia aurata). Foto de Chromps, em Creative Commons e GFDL.

 

O

im

portan

te

 

é

a

rosa

.

 

O te

xto

 es

 ass

im

 

porqu

e

 o

 pro

grama

de

ediç

ão

 do

 blo

gue

 est

á

 doi

do

.

Até amanhã.

Artigos da mesma série: ,
publicado por Manuel Anastácio às 21:17
link do post | Dizer de sua justiça | Quem disse o que pensou (6) | Adicionar aos favoritos
Curtíssima 2

Esquilo-cinzento, foto de Diliff em Creative Commons e GFDL

 

Do grego Σκίουρος (skiouros). Aquele que faz sombra com a cauda. É trágico, se levar acento.

Artigos da mesma série: ,
publicado por Manuel Anastácio às 01:27
link do post | Dizer de sua justiça | Quem disse o que pensou (2) | Adicionar aos favoritos
Quarta-feira, 24 de Dezembro de 2008
Architectonica perspectiva

Foto de G & Poppe

 

É um univalve, ou molusco de uma só concha, como os caracóis e os búzios. Tem uma concha em espiral que, vista de lado, parece a maquete de um sonho. O nome científico foi-lhe dado por Lineu em 1758.

 


Foto de G & Poppe

 

Quando vi pela primeira vez uma destas conchas, no caso, fossilizada, mais que a perfeição da espiral, que constitui a menos arquitectónica perspectiva que se pode ter desta maravilha natural, fiquei encantado com o nome tão belamente escolhido por Lineu. Fui, depois, à procura de mais imagens na Internet. E descobri o claustro circular que tinha imaginado para o meu conto da Bela Adormecida.

 


Foto de Roberto Verzo

 

Não há na mente humana criação alguma que a Natureza, em algum lugar, não tenha já concretizado. Ainda que na inconsciência das coisas perfeitas.

Artigos da mesma série: ,
publicado por Manuel Anastácio às 08:56
link do post | Dizer de sua justiça | Adicionar aos favoritos
.pesquisar