Sábado, 23 de Setembro de 2017
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Entrou na política para ganhar dinheiro. Para se safar. Para ser alguém. Para mandar. Mesmo que o dinheiro não viesse, mandar já seria qualquer coisa. E, mais que mandar, os atributos do poder seriam suficientes para lhe encher o divã dos prostíbulos em que as mulheres não são consideradas putas só porque se deitam por dinheiro. Até porque se deitam, não por dinheiro, mas por poder. Mas o poder da política, em democracia ou em coisa por ela, não é sexy. Descobriu-o tarde. Os corrécios de Braga, no verão quente de 1975 tinham esse poder de arregimentar fêmeas. Entravam armados e a cavalo dentro dos cafés e expulsavam os comunistas, esses homens de H pequeno, amolecidos por ideais de igualdade e fraternidade. Os corrécios, discípulos de Eduardo da Costa Oliveira, o Corrécio propriamente dito, eram homens de pistola grande. E se aterrorizavam uma ou outra mulher, mais eram as que pouco queiram saber das paneleirices da igualdade de género. Também não era coisa de que se falasse. Muito. Umas três escritoras até podiam ter feito pouco da virilidade tacanha do macho português, mas as meninas que se pavoneavam junto aos bandoleiros de Braga adoravam o cheiro másculo da mistura de pólvora e água benta. Não havia ainda estudos que comprovassem que, em países socialistas, as mulheres tinham o dobro dos orgasmos. Isso só se soube depois, e mesmo quando se soube, ninguém quis saber, nem as mulheres que, entregues à liberdade capitalista, não souberam explicar a metade desaparecida. Das corrécias pouco se sabe, a não ser que ficavam excitadonas ao lado dos seus bad boys de sacristia. E que vinham de todo o lado. À espera de emoções fortes. 

Entrou na política para ser um senhor. Por isso não podia entrar pela porta do comunismo. Também pouco lhe interessava ler livros carunchosos das Edições Avante. Não apreciava erva. Queria dinheiro e mulheres. Se não houvesse o primeiro, tudo bem. 

Mas não era um corrécio. E se fosse... Os tempos são outros. A política é sítio para ganhar dinheiro, mas falta mulherio. Não nas listas dos partidos. Aí, que remédio. Mas mulheres políticas interessantes, só algumas de esquerda. As de direita são sensaboronas e querem casar e ter filhos. As de esquerda, são liberais. Fazem coisas. E isso dá a volta à cabeça da macheza de direita.

Mas mesmo que ainda houvesse corrécios, que os há, disfarçados, não lhe tinha a natureza dado tais encantos de virilidade pistoleira. E, encantado pelo canto da liberdade económica, mas incapaz de manter uma empresa que lhe desse para sustentar namoradas loiras de raízes pretas, como as dos futebolistas, entrou num partido de direita. Para descobrir que tinha de se curvar perante as confederações de patrões. E isso não era sexy. Tinha de defender discursos que até ele sabia serem próprios de velhadas. Pontuar as suas intervenções com preconceitos que, para dizer a verdade, nem eram preocupações suas. Queria lá saber se dois homens ou duas mulheres podiam ser juridicamente casados ou se podiam adotar ou não putos. Mas tinha de fingir que isso lhe tirava o sono. Passou a tirar. Porque mulheres que não fossem pagas, nem vê-las. Sedução vinda do poder... Qual poder? Pensou, então, em fazer a Revolução. Só assim poderia entrar a cavalo nas discotecas e sair delas depois de cavalgado por amazonas convertidas ao papel de descanso do guerreiro.

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publicado por Manuel Anastácio às 02:55
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