Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2009
"O Assassino de Salazar", de Joel Costa

Kirsten Flagstad, "Ho jo To ho" de "A Valquíria" de Richard Wagner.

 

Já aqui falei de Joel Costa, o admirável locuautor do mais agradável programa radiofónico da Antena 2, "Questões de Moral". Acabei agora de ouvir, graças aos podcasts disponibilizados pela RTP, um programa intitulado Godot. Sobre a euforia da Reforma. Avé Reforma. Vade retro Reforma. Retréte. Como dizem os franceses e aparentados, e bem.

 

Acabei, também, de ler "O Assassino de Salazar". Comecei a ler este livro a caminho da maior manifestação de professores que houve em Portugal. Enquanto passavam por mim intermináveis autocarros cheios de perfeitas carradas de professores comungando da euforia que só o desalento colectivo pode dar, avancei algumas páginas desde a altura em que João Manuel Gouveia dos Santos Basílio chega do Ultramar com suspeitas de traição conjugal e muito tempo livre para gastar em leituras que se espalham por uma geografia pessoal lisboeta e algumas espreitadelas detetivescas (vamos lá pôr o acordo ortográfico a trabalhar) à rotina da sua mulher. No meio de uma convulsão satélite do Maio de 68 (na verdade, em Março de 1968), entra  em ação uma enigmática Sanseverina socialista, que lhe crava cem paus e, a páginas tantas, uma perua jeitosa amante de Bach e de lusos Adónis que sacrificam a coragem, que não o chega a ser, em nome de uma ideia, cada vez mais estranha e barroca a que se chama Pátria. A Pátria. É esse o tema fundamental deste livro. A Pátria nada mais é que as paredes, ora almofadadas a cetim, ora escorrendo salitre e podridão onde João Manuel Gouveia dos Santos Basílio se move, alterado, drogado, sublimado, enredado, como todos nós, numa matriz de fatos e ficções. O assassinato de Salazar lá aparece, mais para o fim, depois de Joel Costa nos fazer cirandar por estranhos castelos no interior do Alentejo e por entre as confusas memórias de um doloroso erotismo com pinceladas negras de um pouco de Joseph Conrad e um (mais sóbrio, ainda que menos convicto) não-sei-quê do Dan Brown e muito dos mestres do policial. Não sei se é um retrato de um qualquer Portugal que desconheço. Se é, é verdade que o desconheço. Mas os livros também servem para encontrarmos aquilo que ignoramos.

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publicado por Manuel Anastácio às 07:00
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De lili a 5 de Março de 2009 às 00:33
Tenho a ''Meditação Sobre a Arte de Ser Espectador'', guardado no meu Windows Media Player.
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