Sábado, 5 de Julho de 2008
Allegretto

Final (início) do filme "Irreversible" de Gaspar Noe. Allegretto da sétima sinfonia de Beethoven.

 

Irrompeu do caos

O silêncio

E fez-se a maresia, o instante

E a solidão.

Irrompeu da espuma a tristeza,

A lágrima, a nuvem e a primeira imagem da nudez.

Irrompeu do caos

O silêncio: a primeira imagem da surdez desejada.

Irrompeu do caos e da lama

O silêncio purificante de uma chama, e o desejo

Da brutal carícia das coisas impossíveis,

Sobre a laje fria dos banquetes irreversíveis dos abutres.

 

Foi na secura resignada dos meus olhos

Que as lágrimas se espelharam,

Derramando-se no cântico lago do mundo.

 

Ao inclinar a cabeça servil

Soltaram-se, em gemidos, os cabelos da escravatura.

E abriu-se o caminho da tua viral doçura

Dos abismos sob as estradas e caminhos

Dos nossos infantis amplexos.

E irrompeu do silêncio a oração, então esquecida,

Dos abraços reflexos.

 

Descerrou-se o mármore.

 

E acolheu-se o silêncio nas palavras

Nuvem, água e maresia.

 

Descerrou-se o mármore

E entrou em trabalho de parto a poesia.

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publicado por Manuel Anastácio às 20:00
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De Paulo Hasse Paixão a 9 de Julho de 2008 às 06:01
Amigo: filme absolutamente prodigioso. Como o teu poema e deves ser o meu poeta vivo predilecto.

Abraço, pá.
De Manuel Anastácio a 10 de Julho de 2008 às 20:38
Obrigado, amigo...

Só tenho dúvidas quanto a isso de ser poeta - ainda mais, vivo... eheh... - mas obrigadão. A sério: um elogio teu vale muito.
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