Quinta-feira, 4 de Janeiro de 2007
Blasfémia

Vilarinho das Furnas

Sou tão letras!
Quem me dera ser figuras.
Números.
Estruturas.
Mas não.
Sou letras.
Uma após outra.
Dígitos que me substituem a alma.
Nem sequer sou caligrafia.
Bem o gostaria.
Não.
Sou letras.
Na melhor das hipóteses,
Sou uma frase.
Burilada, dizem...
Alguém sabe o que é um buril? Eu não.
Mas sei que os homens do Paleolítico já os faziam.
Ou seria do Neolítico?
Não sei.
Só sei que sou letras.
Penso em letras.
À procura de uma frase.
Até posso pensar que já a encontrei.
Mas as frases atraiçoam.
Cospem-nos na cara.
Mais ainda quando pensamos que existe entoação.
Mas não.
Não há nada.
Nem Verbo.
Sou letras.
Eu,
Aquele
Que é Quem É.
Uma Blasfémia.
Artigos da mesma série:
publicado por Manuel Anastácio às 22:49
link do post | Adicionar aos favoritos
De Paulo Hasse Paixão a 7 de Janeiro de 2007 às 01:30
É muito difícil deixar um comentário a este excelente bocadinho de lírica (esta é a segunda tentativa). Mas, mesmo assim, arrisco: eu, que também sou letras, que também não sei o que é isso do buril, que também sou traído pela intriga das frases, que também não chego a ser verbo, te digo que sonho em ser números. Os números não precisam de entoação nem se rendem ao desenho caligráfico. Os números são leais e são do concreto. Não guardam heresias, não escondem blasfémias: existem apenas.
De Manuel Anastácio a 7 de Janeiro de 2007 às 12:26
E que posso eu dizer deste comentário? Obrigado por estas palavras. Os números ainda não servem para determinadas coisas...
Comentar:
De
  (moderado)
Nome

Url

Email

Guardar Dados?

Este Blog tem comentários moderados

(moderado)
Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres

 



O dono deste Blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.
.pesquisar