Domingo, 12 de Novembro de 2006
O Seringador - Quarto Crescente
Quarto crescente - "O Seringador" (Lello Editores)

O aquecimento global, esteja ou não previsto pelas leis astronómicas que regulam a seringa do nosso amigo Seringador, é um dos assuntos mais espinhosos e polémicos a nível político e científico, no nosso tempo. Primeiro, porque não há certezas científicas a respeito de nada: a não ser que, de facto, o planeta está a aquecer e a entrar em desequilíbros atmosféricos que prometem alterar por completo a regularidade climática planetária tal como a estudámos nos manuais de geografia até hoje. Isso é ponto assente: algo está mal e, de acordo com a lei de Murphy (Se houver duas ou mais formas de efectuar uma acção e uma dessas formas resultar em catástrofe, alguém optará por essa.), é inevitável que façamos a escolha errada, se tivermos escolha. O pior é que nem sabemos se há escolha a um nível efectivamente operacional. Mas, a nível de princípios, só temos uma saída - escolher o caminho que pareça mais seguro. Que pareça??? Dirão? Sim, que pareça. Porque se seguirmos por outro, até podemos estar a seguir pelo melhor, mas só se as probabilidades estiverem mesmo interessadas em mangar connosco.

Isto, porque ao meu arroto acientífico do último post (onde dizia: "...o aquecimento global: factor que, ao provocar a expansão das águas dos oceanos (e não devido à fusão dos gelos das calotas polares, como é frequente acreditar-se)...") o Filipe, como bom e profissional comentador bem me chamou a atenção para a complexidade da coisa. Houvesse um adagiozinho à Seringador e tivesse a Lua alguma compaixão própria da sua suposta índole feminina, e não precisaríamos de tanta discussão em torno do aquecimento global. Entretanto, enquanto discutimos, o calor da discussão tem provocado aumentos mensuráveis na queima de hidratos de carbono, a nível cerebral, nos cientistas e políticos de todo o mundo (e dos leigos que tentam perceber alguma coisa), o que tem provocado um aumento também mensurável nas emissões de dióxido de carbono, ainda que sejam ignoradas no cômputo total dos gases de estufa.

Diz o Filipe: "Enquanto o gelo que derreter for o gelo que está em cima da água, estamos na "mesma". Quando o gelo que começar a derreter for o que está em cima da terra, a questão é completamente diferente." - totalmente de acordo.

Continua o Filipe: "Em relação ao gelo que está em cima da água, existe uma questão que ainda não ouvi falar. Todos nós sabemos, ou por conhecimento, ou por experiência, que se deixarmos uma garrafa completamente cheia de água no congelador ela parte, porque a água, quando passa para o estado sólido, aumenta de volume. Existe também o ponto de congelação vítrea da água, em que a passagem da água ao estado sólida for muito rápida e para temperaturas negativas baixas, a água não aumenta de volume (princípio da ultracongelação). Quando a água aumenta de temperatura, aumenta de volume ("o calor dilata os corpos" é uma verdade particular, não universal), é o princípio associado à questão da subida dos oceanos. Será? E a taxa de evaporação vai-se manter a mesma? Tenho dúvidas nessa teoria e principalmente porque a não vi ainda suficientemente bem explicada." Pois é: na verdade, nem deves ter grandes esperanças em vê-la explicada. Porque, assim como a Ciência ainda não consegue explicar como é que alguém se mantém em equilíbrio sobre uma bicicleta em movimento, muito menos sabe adivinhar qual o efeito do vapor de água nisto tudo. Uns, ao considerarem o vapor de água como um importante gás de estufa, referem que o aumento inevitável da taxa de evaporação irá apenas acentuar o aquecimento global e, consequentemente, a expansão das águas. Teríamos, de facto, de puxar pelos lápis para calcular se o volume de água expandida seria ou não compensado pela água evaporada. Teríamos ainda de contar com o ponto de saturação da atmosfera em relação à água em estado gasoso e, principalmente (o que dificultaria enormemente os cálculos) as nebulosas formas tomadas pela água em condensação (tipos diferentes de nuvens, em diferentes contextos, têm comportamentos diferentes na sua acção de arrefecimento - ao reflectir a radiação solar; ou de aquecimento - ao participar no efeito de estufa, ao aprisionar a irradiação a partir da Terra).

Perante isto tudo, o que dizer mais? A Lua, que, segundo o Seringador, preside aos desígnios de 2007, não promete nada de bom para as gerações futuras. Segundo o oráculo, "os que nascem sob a sua influência são inconstantes, vagabundos, dorminhocos e sujeitos a várias enfermidades, inclinados à navegação por águas e lagoas, preguiçosos, propensos a várias coisas e a variar em todas elas, uns pescadores... de águas turvas, e outros estalajadeiros, tasqueiros, feirantes, politiqueiros e... ratoneiros."  Note-se a frequente referência às águas e às variações. Disso não escapamos. De um futuro que, graças à Ciência, é também cada vez mais incognoscível e variável (sem que consigamos enfileirar os factores a ter em conta). Esperemos, e façamos alguma coisa, é claro, para que, como também quer o Seringador, este "oráculo saia errado, o que não acreditamos, pois o que o Seringador diz e Deus ordena é que VALE."
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publicado por Manuel Anastácio às 17:50
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