Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006
Pormenores: Suásticas castrejas da Citânia de Briteiros

Suástica espiraliforme de braços curvos (Citânia de Briteiros) - Foto da Sociedade Martins Sarmento

Um dos motivos mais recorrentes da história da arte e do misticismo universal - a suástica - é frequente, entre as ruínas da Citânia de Briteiros, nesta forma facilmente associada a vórtices, moinhos e remoinhos. É uma forma dinâmica, associada tanto a fluidos líquidos como gasosos. Aqui, aparece associada ao círculo, símbolo de perfeição e do disco solar.  A pedra formosa defronte aos "banhos", no fundo da citânia (fotografia seguinte), está singelamente decorada com algumas destas figuras e algumas casas utilizá-la-iam como amuleto de protecção, gravadas na superfície inferior de algumas lajes de pavimentação (fora, portanto, da vista).



Quem procura a função das pedras formosas por livros encontrará, quase sempre, a explicação  de que serviam de fachada a pequenas construções que não seriam mais que fornos crematórios. Diz o Saramago na sua Viagem a Portugal, sobre a Pedra Formosa, que "de tão formosa que é, merecia ter servido a [porta de]  forno de pão". Até a Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira, edição século XXI, não fez a devida actualização do verbete e continua a propor tal funérea função. Interessante tese que está, hoje em dia, praticamente posta de lado: por onde se enfiavam os cadáveres? Pelo tecto? Servia a pequena portinhola, debaixo da pedra, para retirar os restos mortais? Duvidamos todos, hoje em dia. Algo de forno teria, com certeza. Existe uma pequena câmara (debaixo de lajes ajustadas) com ligação a um forno. Daí vem a tese de maior aceitação, ainda que não escape a algumas perplexidades. Hoje, estas estruturas também designadas como "saunas castrejas" ou "monumentos com forno", são consideradas como local iniciático associado aos banhos e rituais de purificação - o que encaixa na minha interpretação das suásticas como representações dos elementos fluidos. Quando me disseram que o orifício da base serviria para a passagem dos corpos dos aspirantes à élite (apenas constituída por pessoas magrinhas1), num ritual de constrangimento físico, não quis acreditar. Parecia-me parvo de mais imaginar gente a enfiar-se em buraco tão minúsculo, como cobras. Mas, tal como a água que se escoa por um buraco ou o vapor que se desprende de seixos incandescentes, seria, provavelmente, necessário que o corpo se contorcesse por entre a pedra - como um camelo a passar no cu de uma agulha - para aceder ao Reino dos Céus  (ou dos Infernos - provavelmente, para eles, pouca diferença faria).

Nota: Lembrei-me de falar disto por causa, imaginem, das suásticas espiraladas azuis fluorescentes que passeiam pelo chão do "Um Contra Todos", no Canal 1... Não sei quem concebeu o espaço nem a iluminação deste concurso de televisão, mas parece-me haver, por ali, brincadeira mística pelo meio.

1.
Aliás, como os faquires, que também apresentam uma certa apetência por suásticas curvas.
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publicado por Manuel Anastácio às 14:22
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De Artur a 29 de Setembro de 2006 às 12:41
Infelizmente a história recente deu má fama às suásticas, mas se não me falha a mitologia hindu a coisa é mais ou menos para simbolizar a construção e a destruição - dois processos que lado a lado fazem andar a história e as coisas do mundo - porque inovar é destruir o antigo.
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