Baba-se, a criatura.
Escorre saliva pelo queixo.
Falta-lhe compostura.
É asquerosa, viscosa, a criatura,
porque saliva. Não se controla.
Vai de viola, a criatura.
No reino da normalidade,
a saliva tem sentido único. E há controlo.
Ordem, criatura.
Baba-se, a criatura. Coisa feia.
Decadente. Velhice, doença, estado demente.
Falta-lhe compostura,
à abjeta criatura.
E chora, parece que tem sentimentos, a criatura.
Talvez os tenha.
Mas falta-lhe a compostura.
Parece ter o mundo às costas
e, lá dentro, todas as culpas originais,
congénitas ou acidentais, florescem em doces súplicas.
Mas anormais.
Baba-se, a criatura.
É mais linda, que as demais,
Mais aberta, luminosa, e tudo o mais.
Mas baba-se, a criatura,
escorre saliva pelos queixos.
Não pode aspirar a mais.