Quinta-feira, 27 de Setembro de 2012
Do que é meu

O céu lá fora.

Eu cá dentro,

nada. Lá fora, quase tudo:

os homens que se atropelam,

e fingem encontrar em nós algo mais que uma poeira.

Há que ver dos dois lados, mas só um interessa,

o nosso.

O nosso lado, a nossa voz, o nosso dinheiro.

E logo eu, que penso no que é vosso,

que para mim não quero mais do que aquilo que é meu.

A Providência deu-me os olhos, a boca,

os tintins e anexos.

Não vacilam entre privatizações e nacionalizações,

conforme a tola predileção de quem vota

e se manifesta em festa tonta.

O céu lá fora. Nuvens em pedaços.

Tão belo e ninguém vê, ou vê mas não olha

ou qualquer coisa saramaguiana do mesmo jeito.

O mundo é tão bonito,

e é por isso que acredito que Deus não olha por mim.

Eu cá dentro. Caneta BIC vermelha

Corrigindo testes.

Lá fora, tudo,

Cá dentro nada.

Nada sou.

Mas ao meu lado,

Tudo.

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publicado por Manuel Anastácio às 23:06
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