Moisés beijou o rosto do Faraó.
Meu irmão, como não terei outro, meu irmão.
E olhou-lhe os lábios onde ainda se marcava a cicatriz
dos seus dentes. Meu irmão.
Maomé gritou à multidão,
meus irmãos, vós, que comigo se deitaram,
quem foi Moisés,
quem foi Aarão a não ser um artífice de bois doirados?
disse Maomé à multidão,
de olhos mirrados.
desenho de Carla Cristiana Carvalho.
Quando desenhas olhos,
todo eu tremo por dentro.
Argos Panoptes, o que tudo vê,
cego de si,
à dor de tudo ver,
devassa nessas tardes o deserto do meu corpo.
E fujo, sem pedra que me abrigue em sepultura.
Quero que em mim se ergam miragens,
não imagens do que sou.
Quando desenhas olhos,
brotam olhos de água na areia,
no argueiro que em meu olhar pousou.
Quando desenhas olhos, caem em mim olhares,
colares de olhos e acusações.
Que entre olhar e acusar
não existem variações.
Quero que em mim se se ergam miragens,
não imagens do que sou.