Detalhe de vitral em Herringswell
Se digo, Amor, que me afogo nos teus braços
E que na tua boca bebo o vinho amargo do tempo que escapa,
É porque em ti morrendo, devolvem-se-me os dias.
No dia em que a tua voz, Amor,
Se fez algemas,
Morreram as estações e os poemas.
Cobriram-se de véus e de pudor.
Escrevi-te palavras de apaixonado, murmúrios ternos,
Sugestões obscenas,
E foram tão pequenas, essas palavras.
A poesia do tempo que passa morreu naquele dia de fevereiro
Em que a tua voz dizia a poesia que jamais eu poderia escrever.
E no teu corpo de mulher, Amor,
Há mais que corpo, que desejo e que abraços,
Há os espinhos e a memória dos embaraços
Da minha pequenez de poeta aflito,
Querendo não ser poeta. Querendo eu, apenas, o grito
De que me amas como eu te amo.
Por causa da minha pequenez de poeta maldito,
O sol correu as cortinas do Zodíaco,
Virando em direção ao nada a ampulheta em que reflito.
Amor, que diferença pode fazer ser quase outono,
Quando o verão ainda não vai a meio?
A natureza dorme desperta na sua nuvem minúscula de grandeza ameaçada.
Trazes nos braços e na voz a mítica presença de uma fada,
Como artifício de sereia que não me chama, mas se afasta.
Como esfinge que pergunta em cada resposta dada,
Não quero o grito de que me amas como te amo a ti.
Quero mais,
Quero a finitude do teu espaço.
Quero um abraço sem braços.
Não. Na verdade não quero nada.
O que há para querer quando temos alguém em quem morrer?