Segunda-feira, 11 de Abril de 2011
Austeridade

 

Vídeo da Esquerda.net, mas que me chegou pela mão da Ana Ramon.

 

publicado por Manuel Anastácio às 23:08
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Sábado, 9 de Abril de 2011
Compilação de banalidades (ou verdades) contraditórias

O que me preocupa não é quem não confessa o quanto é vil, mas quem acha que é herói por ser orgulhosamente vil.

 

[Fernando Pessoa] foi uma pessoa muito pequenina. Que não cabia na vida ainda mais pequena em que calhou a nascer.

 

As pessoas preferem ser más do que serem fracas. Preferem fingir que seriam capazes das maiores atrocidades a assumir que não seriam capazes de dar um murro a quem o merece.

 

Por morrer uma andorinha não se acaba a Primavera. Matar uma andorinha é negar a Primavera.

 

Viver, excepto no reino vegetal, é matar ou parasitar.

 

Nada há de belo na condição humana.

 

A beleza consiste em abstrairmo-nos da nossa condição humana e acolhermo-nos à contemplação passiva dessa condição. Amar a beleza é uma covardia benigna. Agirmos com coragem não é usufruir da beleza, mas aceitarmos a beleza de negá-la a nós mesmos, dando-a o outros.

 

A beleza é um valor eterno, tanto quanto se prolongar a vida humana, mas não é um valor absoluto.

 

Nada há mais belo que ser bom.

 

Bondade, contudo, não é beleza.

publicado por Manuel Anastácio às 21:19
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Sexta-feira, 8 de Abril de 2011
Sempre

 

 

Woodkid, Iron

 

Por vezes a dureza do ferro,

A algidez da dor,

O calor morno das lágrimas

E tu

Por vezes as palavras com que te seduzi

Ou com que pedi

A tua dor, as tuas lágrimas

E tu

Por vezes, o cheiro a eucalipto,

Um recanto interdito

O teu cheio a sobremesa abaunilhada

E tu, por vezes a minha face

Por vezes a tua

As duas, nenhuma

Por vezes um tom de voz

Um rasgo em nós, a algidez da dor

E o calor e tu. Por vezes um caminho,

Uma taça de vinho, amargo de lucidez,

Com a acidez de um único trago.

Cálice amargo em que te trago,

Imersa no meu veneno.

Por vezes, num tom obsceno,

Um olhar de mágoa dura,

Um jeito que ninguém atura.

Nada mais há para lá do círculo onde nos encontrámos.

Vimos estrelas e constelações,

Olhámos o fundos dos oceanos,

E para lá da esfera onde nos encontramos,

Por vezes ninguém, tantas vezes ninguém, quase sempre ninguém

Sempre ninguém, por vezes

Ninguém,

Tirando, imersos no éter e nas nebulosas, eu

E tu.

publicado por Manuel Anastácio às 21:00
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Quinta-feira, 7 de Abril de 2011
Buscas pedidas: "Posso matar andorinhas?"

Não, não pode. Dá um azar do caraças. Graves tragédias acontecem a quem mata uma andorinha. Cada ninho destas aves que é destruído por pessoas preocupadas com a pintura das paredes faz cair sobre os seus destruidores ondas negativas que não só interferem com o equilíbrio dos chacras como com as redes neuronais, provocando, inclusivamente, tumores cerebrais, hemorróidas e impotência sexual - tudo no cérebro ou no coração. São várias as histórias que testemunham o quanto é perigoso matar uma andorinha. José Alcaire, de Cova da Beira, só para falar de um português, é um caso sintomático. Ter destruído um ninho no beiral da sua casa por causa do cocó que lhe escorria pelos vidros da marquise foi apenas o início de um desenrolar de acontecimentos fatídicos que terminaram com a total perda das suas faculdades mentais, tendo inclusive, começado a interessar-se de forma excessiva por filatelia, o que causou o repúdio da população que, chocada pela perversidade dos seus novos hábitos, o matou de forma sanguinária e particularmente sádica, sem que as autoridades fizessem alguma coisa (consta, aliás, que o procurador público felicitou os mentores do linchamento e propô-los para receber a Ordem de Santiago da Espada). O professor John Doe, da Universidade de Birmingham, no Norte da Colúmbia Britânica, prémio Nobel em Medicina Alternativa, assegura, aliás, que a morte de andorinhas é um dos factores mais relevantes a ter em conta, depois das brincadeiras com cigarros na boca dos sapos, para o aumento da ocorrência de sismos violentos em todo o mundo, ainda que não tenha grandes certezas quanto ao aquecimento global. De facto, não há grandes provas de que a morte de andorinhas bebés (que são aquelas mais fáceis de matar) tenha influência no buraco de ozono e, apesar de as adultas andarem sempre de um lado para o outro e, assim, furarem a atmosfera, crê-se, através de fotografias usando película especial de dicromato de magnésio, que em volta de uma andorinha bebé se encontra uma aura de cor azulada, mas não esférica, o que parece indicar que há poderes que não devem ser perturbados nesta sua fase de desenvolvimento. Franz Ferdinand, professor da Jackass Academy, em Nova Iorque chega mesmo a admitir que a aura, no caso das andorinhas adultas, é ainda mais poderosa e que sempre que se mata uma andorinha há uma dispersão de neutrinos que desestabiliza o equilíbrio cósmico em torno do animal, afectando especialmente quem a mata. Há experiências que indicam, ainda, que um fenómeno semelhante ocorre nos ninhos destruídos. De facto, mais de 50% das casas vendidas em hasta pública no último ano tinham vestígios de ninhos de andorinha destruídos, apesar da brancura imaculada das suas paredes. Por outro lado, as casas que mantiveram os ninhos de andorinha, apesar de sujas, pertenciam quase todas a pessoas com rendimentos estáveis e cujo estado financeiro não foi comprometido com a Crise.

 

Ah, claro, e as andorinhas comem grandes quantidades de moscas e mosquitos (incluindo as fêmeas, que são as melgas que nos zunem aos ouvidos à noite e que aqui no Norte são chamadas de trupeteiros), o que, em termos de higiene, é mais vantajoso que a brancura das paredes. Mas como argumentos destes não pegam com o povo que temos, pode ser que os que estão no parágrafo anterior sejam mais convincentes.

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publicado por Manuel Anastácio às 21:17
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Quarta-feira, 6 de Abril de 2011
Fábulas de Esopo: A raposa e o corvo

Capitel da Igreja românica de San Martín de Fromista, Palencia (Espanha).

 

À raposa, certo dia,

Ao ver um corvo a pousar

Numa certa ramaria,

Deu-lhe para reparar

Num queijo que ele, c' o bico,

Acabara de roubar.

E ela, num saltarico,

Sob o ramo se meteu,

Cobiçando o pitéu rico

Daquele bico pr’o seu.

“Boa tarde, Mestre Corvo”

Assim ela se atreveu,

Sem receio como estorvo,

Pronto a tudo arrumar

Num rápido e curto sorvo.

"Não me canso de admirar

A elegância e beleza

Com que se quis enfeitar

A animal natureza,

Ao, no seu corpo, investir

Tamanha delicadeza.

É difícil decidir

O que mais belo parece:

Essas penas a luzir

Ou esse olhar que enternece

O mais duro coração.

Confesso que me apetece

Ouvir-vos numa canção.

Vossa voz está, certamente,

P'ra lá de comparação,

Mesmo para ouvido exigente,

Seja com o rouxinol

Ou outra canora gente.

Das aves serás o sol,

Como deus, idolatrado

Serás por certo, se ao rol

Do qu'ora me é mostrado,

Se juntar o belo canto

Que em vós tenho adivinhado.

Movido pelo encanto

Da raposa mentirosa,

O corvo, sem grande espanto,

Faz a asneira desastrosa

De abrir o bico e grasnar,

Pensando ser maviosa

A sua voz de assustar.

Claro que o queijo caiu

Mal começou a cantar.

E como a ladra previu,

Caindo directo ao chão,

Logo a boca se serviu.

“Não vos vou pedir perdão”,

Disse a desavergonhada,

“Pago-vos com uma lição,

A que estou mui obrigada

Em paga da refeição

Que terei daqui a nada.

Quem confia em elogios

Sem olhar a quem os faz

Devia acalmar os brios

Que na sua alma traz.”

 

(versão de Manuel Anastácio)

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publicado por Manuel Anastácio às 21:02
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