Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2011
Utopia

Hoje, levei três alunos à Sessão Distrital do Parlamento dos Jovens em Braga. Preocupado em ensinar-lhes as técnicas da persuasão política, são eles testemunhas de quanto me preocupo em transmitir-lhes que, mais importante que convencer é fazer aquilo que é correcto, de acordo com a nossa consciência e não de acordo com o nosso egoísmo. O meu aluno Tiago Peixoto pegou, então, em dois discursos que o emocionavam e que falam disso mesmo. Aquilo que é correcto. Um do Bono Vox e outro do Martin Luther King. E convenceu. E, no meio das tricas de bastidores que envolveu a sua própria eleição para a Sessão Nacional (sim, ele vai até à Assembleia da República falar para a Nação) voltou a mostrar-me como tudo o que envolve a política é sujo, tão sujo para os jovens como é para os adultos. Eu ando na política por uma razão apenas. Porque o Partido em quem acredito precisa de mim. Apenas por isso. Nunca me vou candidatar a cargo político algum. Mas o Tiago talvez vá candidatar-se a um cargo, um dia. E, provavelmente, não será no meu partido. Um deputado de um partido que não vou nomear aproveitou o intervalo para o convencer a fazer carreira pelo seu partido. E eu, ironicamente, disse que não podia ser, que ele já estava requisitado para o meu. E... tudo me leva a crer que o deputado julgou que eu estava a falar a sério. E se estava, estava apenas num ponto: pretendo requisitar o Tiago para o partido das pessoas com consciência, para o partido daqueles que não vendem a alma, acreditem ou não na existência dela.

 

Passei o fim de semana a trabalhar para hoje com o Tiago, com o bate-papo do gmail sempre aberto, a trocar mensagens e a estudar as medidas das outras escolas enquanto o Tiago discursava para o vazio perante o olhar atónito do seu irmão mais novo. Hoje, levava dezassete folhas para distribuir a dezassete escolas com sugestões de melhoria e aperfeiçoamento das medidas para que as outras escolas, numa atitude de transparência que vai para além do que qualquer manual de política alguma vez proporia: de facto, estavam a dar os trunfos aos adversários antes do debate... mas faziam-no de modo a tornar mais eficiente o debate, numa base de pura confiança. Fazer política, deixando a política à porta.

 

Um dos representantes de outra escola recebeu a folha com desprezo e, olhos nos olhos dos meus alunos, rasgou o papel que lhe fora estendido. Graças a Deus, o Diabo fez justiça. E os olhos do desprezo marejaram-se de lágrimas de inveja.

 

Assim seria no Dia do Juízo Final.

 

De volta à escola:

 

- Professor, o que é uma Utopia?

 

E eu sorri... O que eu gosto de perguntas destas...

publicado por Manuel Anastácio às 23:30
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Sábado, 26 de Fevereiro de 2011
XX

 

Uma sugestão da Ana Ramon: Camille Saint Saens e os braços de John Lennon da Silva. Porque não há nada mais belo que a criação e a diferença (até a diferença de ideias, imagine-se eu a dizer uma coisa destas).

 

 

Nunca apelei ao suicídio de ninguém. Muito menos num poema. A poesia é demasiado rica e desnivelada para se ler nela qualquer tipo de apelos. E dirigem-se (a não ser que tenham dedicatória) a quem sentir neles um barrete enfiável. Apesar de ser a favor da eutanásia, que é um sacrifício supremo para quem a realiza, mas é uma dádiva de amor para quem a recebe quando a deseja, o suicídio é apenas morte. E eu não gosto da morte. Ninguém deveria morrer: nem as crianças vítimas de aborto (e eu votei sim pela despenalização) nem as vítimas do Aborto chamado Humanidade. Mas há muito de Aborto na humanidade. Houve um antepassado meu, com quem partilharei alguns genes, há algum tempo, ainda eu não era nascido, que, cheio de dívidas até ao pescoço, veio ter com um avô meu, de maiores posses, para pedir-lhe ajuda financeira. Com a rudeza que também anda por vezes nos meus genes, o meu antepassado proferiu a frase seca: "olha, põe uma corda ao pescoço e enforca-te". Foi o que o meu antepassado fez. Enforcou-se. Muitas vezes, na minha adolescência, julgando-me a mais infeliz das criaturas, senti esse espírito de desistência perante horas de suplício que, se as tivesse de reviver, me tornariam a vida penosa para além do tolerável. Não tivesse acontecido uma ruptura na ordem das coisas e haveria, provavelmente, algures, uma corda assombrada pela minha morte. A cobardia perante a morte, não sendo inesgotável, é uma coisa boa. Mantém-nos vivos. Eu sobrevivi. Estou aqui. Rude, insensato, imponderado. E morro, como um cisne. Abençoado seja o povo brasileiro. Juro que hoje pensei várias vezes em pedir a nacionalidade à Embaixada do Brasil. Não porque os brasileiros sejam melhores que os portugueses. É infantil pensar que a nacionalidade seja uma coisa com valor por si mesmo. De todas as relações humanas, a que menos importância tem é aquela que se refere à família onde nascemos e entre esta e a nacionalidade vai um nada. Ninguém escolhe a família onde nasce nem o país. Mais importante é a família que escolhemos ter e que, entre palavras rudes e decepções, vai evoluindo ao sabor da dor e da luz. Um dia disseram a Jesus, olha a tua mãe e, ele, rude, disse: a minha mãe? a minha mãe são estes que me seguem. Choquei-me, na primeira vez em que li estas palavras. Hoje não. A minha família são aqueles que aceitei escolher, aqueles que me sabem ouvir, aqueles que me amam por aquilo que há de bom em mim e não por ter nascido aqui, ali ou na Conchichina, deste, daquele ou daqueloutro. E quem não me amar a mim mais do que à sua família (porque a família sou eu e todos os que, como eu, querem pertencer à grande família daqueles que conhecem o bem e o mal e preferem o primeiro), não é digno de mim.

 

Mas não estou à espera que certa gente... como é que é?... "Infestantes rastejantes" compreendam este texto. Aliás: nem este nem o outro. Já me arrependi de o ter escrito para, de seguida, o considerar, na minha opinião, um dos mais belos poemas que alguma vez escrevi - e um dos mais humanos, já agora. Agora, ainda vendo no texto um belo pedaço de literatura que não vou apagar (ainda que isso só tornasse o texto ainda mais mítico entre um círculo restrito de não leitores que nunca se interessou particularmente pelas merdas que aqui escrevo), só sinto pena por não escrever coisas tão bonitas para as pessoas que realmente merecem as minhas palavras. Saravá, minha gente. E que a poesia repouse no coração de quem ama o ser humano e vê nas fronteiras o que elas são: o persistente sinal de que somos bichos que marcam com merda e urina o seu território. Que fique com essa parte da nossa herança biológica quem quiser. Eu dispenso.

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publicado por Manuel Anastácio às 01:08
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Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2011
Política de comentários deste blogue
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publicado por Manuel Anastácio às 17:54
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HUMANIDÁdji

Eu aceito que não gostes de alguém por ser mau, cabrão, filho da puta, antipático, arrogante, intolerante, fanático, extremista

Idealista

Eu aceito tudo

Menos ter de gostar de alguém

Por outra razão que não seja amá-lo.

Eu amo a humanidade, essa grande filha da puta, má, cabra, arrogante, intolerante, antipática, fanática, centrista

Fascista

Estalinista

Faz a lista

Limpa o cu com ela, e cuidado para não apanhares hemorróidas.

E sorri,

Afinal, este é o teu epitáfio

Grandessíssima filha da puta, má, cabra, arrogante, intolerante, antipática, ignorática fanante,

Vai caçar dinossauros para um campo de concentração

Bebe Parmalat com 605 forte

Segue as pegadas fósseis da morte e despenha-te por aí abaixo

Acende o teu facho de ódio

E vomita lombrigas, vai pastar formigas

Corta os pulsos, de-fe-nestra-te

Ou, então, queixa-te de como és infeliz, coitadinha,

E de como estás tão sozinha

No meio de tanta gente presa no mesmo campo de mortos onde te enterras.

Eu morro, também,

Mas de olhos erguidos para o céu que ninguém me tirará

Nem deus, nem diabo, nem, enquanto por dentro consiga ver,

Qualquer inimigo da lei de Lavoisier.

Vai e espoja-te no teu vómito e bebe a peçonha que destilas.

Tens prazer nisso. Gostas disso

Desse sabor ácido de podre de cadáver num chouriço.

Vai, mata-te, ou talvez não.

Não poluas o mesmo chão onde meninos dormem os sonhos que nunca sonharão.

Vai, mata-te, ou talvez não.

Sei lá, não me chateies.

Se possível, desaparece.

Esquece.

Some-te apenas.

publicado por Manuel Anastácio às 01:05
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Sábado, 5 de Fevereiro de 2011
XIX

Hoje entraram no meu blogue à procura de "Matar José Sócrates".

publicado por Manuel Anastácio às 22:21
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