Sábado, 30 de Outubro de 2010
XVII

- Estava a falar com o Sousa e, ao contrário do que podia parecer, ele gosta mesmo é de literatura russa do século XIX: Dostoievki, Tolstoi... e ao contrário do que pode parecer, ele não conseguiu passar das primeiras páginas d' "O Capital"...

- Eu também nunca li "O Capital".

- Nem eu. Aliás, nunca o tive, sequer, entre as mãos....

- Eu também não. Mas gostaria...

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publicado por Manuel Anastácio às 02:06
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Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010
Manamanah

Uma gargalhada por dia, nem sabe o bem que lhe fazia...

Mas se forem duas gargalhadas, ainda melhor:

publicado por Manuel Anastácio às 14:19
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Quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
XVI

- Está, com quem estou a falar?

- Com o ratinho de Massamá.

- Ora bem, ligou e ligou bem aqui para o largo-do-rato-rádio, sabe qual é a frase?...

- Se der uma ajuda...

- É "temos..."

- Temos que...

- Não! "Temos de..."

- Não é a mesma coisa?

- Se fosse coisa e não obrigação, desejo ou dever, seria que... mas é de, porque é um desejo...

- Compartilhado...

- Chiu... estamos no ar....

- Ah, pois, eu agora fazia que não concordava contigo.

- Pois. A frase é, então...

- "Temos de..."

- Acalmar...

- "Temos de acalmar..."

- Os...

- Espera, não digas mais, eu sei, eu sei: os mercados! Temos de acalmar os mercados!

- Isso! (música estridente de fundo) E o que é que quer ouvir?

- A Lady Gaga, em Bad Romance...

- Ora muito bem escolhido, ratito, ou será coelho?...

- Tu és rato...

 

publicado por Manuel Anastácio às 23:58
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Na verdade...

... foi o Sócrates que pagou aos jornalistas para aderirem à greve, para que a greve não seja noticiada!... Mais um exemplo da brutal ingerência deste executivo na independência do serviço público de informação.

publicado por Manuel Anastácio às 23:05
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Viagens ao fundo da escada - Travassos, Póvoa de Lanhoso (2): como ao entrar no museu fui assaltado por vozes demoníacas que me queriam afastar da verdadeira fé da indissociabilidade entre a forma e o conteúdo, e como resisti a tais tentações (...)

(...) apenas destinadas a engrossar as fileiras de outras estéticas infernais, em nome do Ouro Nosso Senhor, Ámen

 

Estou eu a entrar no pequeno pátio que ladeia a Casa de Alfena, um belo edifício do século XVIII utilizado actualmente como unidade de Turismo de Habitação, antes de entrar na oficina de ourivesaria, quando um espírito de outro lugar me sussura que estilo e conteúdos são coisas diferentes. Não se trabalham nesta terra os diamantes. As minhotas, desde os tempos castrejos (eventualmente, antes, seriam muito provavelmente os minhotos, mas essa é outra história) usam ouro e não diamantes. Mas os diamantes dão-me o mote para o desenvolvimento daquilo em que penso, ainda antes de entrar no Museu do Ouro, arriscando-me a, tal como duas personagens do Tristram Shandy, levar uma eternidade a descer uma escada - eu demorarei o tempo que for preciso a pagar o ingresso no Museu, já que são os diamantes que agora me ocupam o pensamento. Um diamante e um pedaço de grafite, aquele mineral que está dentro dos vulgares lápis que os meninos levam para a escola, são duas formas do mesmo material. Ambos são constituídos por átomos de carbono. O conteúdo é o mesmo? Não. Um é um diamante, outro é um material de rápido desgaste. O conteúdo não é o mesmo, ainda que a matéria seja a mesma. Aquilo a que chamamos estilo não é mais que a disposição das coisas de modo a produzir um outro conteúdo com uma matéria que, disposta de outra forma, dá outro conteúdo. Posso descrever a minha entrada no Museu do Ouro apenas com as informações típicas de um roteiro turístico e acrescentar o preço dos bilhetes de várias formas. Posso ser sucinto e objectivo. Mas posso também transformar a tabela de preços num poema, se assim me apetecer; ou posso ainda reflectir, a partir do preçário, a respeito das políticas de turismo e de apoio à cultura. O conteúdo é o mesmo? Não. É certo que, ao fazer a crítica do preçário estou a acrescentar matéria à matéria inicial, o que, inevitavelmente dará outro conteúdo. Mas pensemos agora na oficina. O ouro é lá trabalhado e transformado de um corpo amorfo, em primeiro lugar, num fino fio de arame que será a matéria prima da filigrana. Continua a ser a mesma matéria. É o mesmo conteúdo? Não creio. Há uma forma associada que transformou aquele material noutra coisa - com ouro amorfo não se pode fazer filigrana, com o arame fininho, já se pode. A forma deu à mesma matéria uma outra função, uma outra finalidade. O objecto não é o mesmo, logo, o conteúdo também não é. Com o arame pode-se fazer um coração minhoto ou, sabe-se lá, uma flor. A matéria é a mesma - ouro. Pode-se dizer o mesmo do conteúdo? Não. A minha perspectiva é que a forma altera radicalmente o objecto, modificando-lhe o uso e a percepção que dele se tem. A forma, o estilo, é parte do conteúdo. Não é separável. É impossível lermos o mesmo conteúdo com estilos diferentes. Alguém que conte os Lusíadas em forma de narrativa jamais poderá, na minha opinião, dizer que o conteúdo é o mesmo. Note-se, aliás, que aquilo que foi escolhido para ser contado nos Lusíadas, isto é, a matéria prima do que é narrado, esteve sempre dependente da forma poética utilizada pelo autor. A fonte dessa matéria, a mina onde repousam os conceitos, é a história da humanidade, a história de Portugal, a mitologia grega, a ciência da época, e por aí fora. Mas até a escolha da matéria foi condicionada pela forma. Ao falar da Lua, o poeta diz "com três rostos, debaixo vai Diana". Se dissesse que o astro que se seguia era Lua, que apresenta quatro fases (uma das quais não é visível) - o conteúdo não era o mesmo, ainda que a matéria fosse, parcialmente, a mesma. É que para dar o verso pretendido, o poeta foi buscar uma pepita de outro metal a outra mina: à da mitologia romana, enquanto que, em linguagem escorreita e sem artifícios poéticos, cingindo-se à descrição astronómica, a Lua jamais seria identificada com a deusa da caça. A forma, o estilo, transformou a mesma mensagem de base num conteúdo diferente, num objecto diferente. É a diferença entre uma jóia e um pedaço de carvão, tenha sido a Natureza ou o homem a dispor as coisas num ou noutro sentido. Mesmo que consideremos que o conteúdo é o assunto, ficamos na dúvida com tal palavra. O que é o assunto: o metal usado ou a mina de onde vem? Na minha perspectiva, é a mina. E ao lermos algo que trata do mesmo assunto em estilos diferentes estaremos a ler conteúdos diferentes, ainda que os referentes sejam próximos. A mina de onde saiu o ouro para fazer o colar da Academia pode muito bem ter dado o ouro para fazer o coração em filigrana que está no piso superior do museu onde vou entrar ou a talha dourada de uma igreja que visitarei um dia destes, mas o conteúdo não é o mesmo. Aliás: nem a matéria, que apenas pertence à mesma classe de coisas. Mas quem fala de palavras tem sempre pano para mangas, mas com o qual se poderá também fazer colarinhos - o mesmo tipo de matéria, conteúdos diferentes. Mas, em pleno Vale do Ave, a indústria têxtil terá de ficar para outra altura. A literatura de viagens só não é literatura quando dispõe as pepitas sem as transformar em filigrana. O autor de um livro de viagens pode ser um simples garimpeiro, claro, mas há quem tenha o toque de arrancar jóias perfeitas dos caminhos que trilha. Aliás: todos os livros são livros de viagens, bem vistas as coisas.

Coração minhoto de filigrana. Museu do Ouro, Travassos, Póvoa de Lanhoso. Foto de Luís Santos.

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publicado por Manuel Anastácio às 22:18
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