Sexta-feira, 15 de Janeiro de 2010
Poemito e saravá. Saravá é baiano?

Gláucia tocando piano.

Oxente!...

Tá bom de mais!

 

Quanto ao Messias de Handel (desculpem-me, mas não tenho tempo de pôr os tremas sobre o a: o meu teclado é europeu e vimaranense mesmo)... Vou só lembrando que um dia escrevi algo sobre o assunto. Não é nada de mais. Mas é sempre qualquer coisa. E assim, digo que estou vivo e que vos agradeço do fundo do meu coração pelo facto (sim, Gerana: o acordo ortográfico ainda não foi implementado por aqui) de o meu blogue continuar vivo, mesmo sem eu participar. Oxente!... Com comentadores destes, para que sirvo eu?

 

POEMITO

 

 

Senta-se ao piano.

Tremem as mãos,

O olhar desce.

As teclas, desconjuntas,

Trocam o silêncio pelo exercício.

As mãos tremem.

Os olhos descem.

A música repousa no papel

E faz nascer infernos

E desejo de silêncio

No ar dorido.

A menina senta-se ao piano

E no tempo interrompido

Pelo rasgo dos dedos enregelados por arritmia,

As suas mãos procuram apenas a brisa intangível

Onde desliza, na cor dia, de uma asterácea,

 A branca, breve e leve semente da mais secreta

E intocável

Melodia.

publicado por Manuel Anastácio às 23:45
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Terça-feira, 12 de Janeiro de 2010
Sete pecados capitais: A Preguiça

A Preguiça, por Godard.

 

Sem cantar, canta a cigarra,

Grita sem gritar. Não tem laringe.

Sem cordas vocais.

Só traqueias. Sem pulmões.

Mas com as pernas,

Como uma Marlene Dietrich dengosa

Vendendo maçãs em Marrocos

Ao Gary Cooper,

Não é preguiçosa.

Perigosa, talvez. A preguiça é a mãe de todos os...

a) malvados pecados

c) males

b) vales

d) ou uma palavra qualquer que rima com pecados.

Não sei onde fui buscar os vales mas tem algo a ver com Isaías.

E com o Messias. De Händel.

Difícil coisa é cantar com as pernas.

Experimentem e logo verão,

Se antes não tiverem uma muscular distensão

Cãibras ou, apenas, uma quebra de tensão.

A preguiça é o berço da invenção

Mas também

Das utopias em que navega o devir.

Deixem-me o violão e uma rede.

Uma lareira e Gláucia contando histórias

Num inverno europeu, com muita lenha.

Deixem-me sonhar liberto das horas presas aos dias e aos horários,

aos primeiros toques, aos segundos,

E à funcionária que vem ver se os meninos deixaram aparas de lápis no chão.

Prendam-me aos livros bolorentos

e a outros inúteis documentos de sótão e solidão.

Deixem-me perder no vinho das letras e na imagem fantasma

de um écrã de prata. Deixem-me não fazer nada. Fechar os olhos,

arrastar o gosto do que gosto. E cultivar outros pecados.

A alma cansa-se para atingir o Paraíso. Poupai-me a carne.

Ao menos isso.

Deixai-me dormir.

Amanhã é já agora.

E uma cigarra, em mim, dolente, chora...

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publicado por Manuel Anastácio às 21:31
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Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2010
A característica mais forte dos baianos

Tom Zé, ensinando o que é um metarefrão microtonal e polisemiótico no Programa do Jô. Uma aula de música deveras interessante.

 

A Gerana diz que eu pareço baiano com este blogue. Desconhecendo eu qual a característica atribuída aos mesmos e que me seria também imputável, fui fazer uma pequena busca ao Santo Google. E fiquei a saber que para um professor universitário, Natalino Dantas de seu nome, a maior característica dos baianos é a burrice. Ora, não me passa pela cabeça que a Gerana me considere burro. Mas é fascinante ler as afirmações deste Dantas a que me furtarei de dedicar um manifesto anti-dito, à maneira do Almada, ainda que apeteça, obviamente, dizer morra o Dantas, morra, pum... Sim, pum... Tem mais cheiro. Diz o Dantas (que, tanto quanto sei, é Baiano, a não ser que seja baiana, e as mulheres estejam fora do espectro da imbecilidade regional) que O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais, não conseguiria. O compositor baiano Tom Zé, que vem a Guimarães dia 23, que sabe tocar Berimbau, além de liquidificadores, rádios, máquinas de escrever, gravadores, teclados e garrafas, para não falar de vários instrumentos convencionais, com particular destaque para o piano e violoncelo, sendo mestre em composição, contraponto e harmonia, não quis comentar o Dantas para não lhe dar esse prazer. Eu, por mim, penso que o Dantas apenas desabafou a sua tristeza, como baiano, ao ver a baixa prestação dos seus conterrâneos da Universidade Federal da Bahia no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). Eu mesmo poderia dizer algo semelhante dos portugueses, sem contudo, querer ser confundido com a Maitê Proença. Por isso, deixo o Dantas em paz e vou à procura de uma característica dos baianos que não seja esta, que não é baiana, mas universal... se o tempo assim permitir...

 

Bom ano a todos.

publicado por Manuel Anastácio às 17:55
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