Fotografia minha, de uma cabeça de gato, de Rafael Bordalo Pinheiro, no Museu do Douro, Peso da Régua. Foto ilegal, mas tirada sem flash.
Não há maior doçura nem maldade
Que a auto-sustentada verdade
Cartesiana
Deste réptil de pêlo nervo em franja,
Unhas retrácteis, gestos fáceis e nervos como luz.
Não há maior doçura em outros dedos,
Se dedos forem, como estes:
Facas. Fuzis.
Ausência de ardis
E plena sinceridade de emboscada.
Desliza com augúrios de avidez
E traz no olhar, espelhada em prata,
A própria doçura da escuridão.
Desliza na doçura da maldade
Da sua negra iniciativa
Própria de certas aparições
Que imprimem em carne viva
A marca ocre de quem brinca à morte,
Com a mais escura das seduções.
Poema tirado do baú, velhinho, mas com algumas alterações.
Cabeça de rato, de Rafael Bordalo Pinheiro. Fotografia minha, tirada ilegalmente no Museu do Douro, da Régua, porque a propriedade privada do Estado não permite que se tirem fotografias, mesmo que sejam sem flash, em museus públicos. Porque é um dever moral cometer a ilegalidade, quando a lei em causa é estúpida.
Aparecem estes azulejos à entrada de um restaurante em Peso da Régua. Fico com algumas dúvidas . O que é que é, aqui, preto? O Bar? Nesse caso há um bar branco, ou o branco é o vinho que se bebe no Preto? Deve ser isso. Um dia experimento e depois digo.
Hoje, creio que vou celebrar a perda da maioria absoluta do PS e a subida do Bloco com um Porto branco fresco que anda estagnado no frigorífico há semanas. Sei que nada é brilhante neste país de negruras atávicas. Nunca cheguei a declarar aqui as minhas intenções de voto. Muitos dos amigos que mais prezo são de outras paragens políticas e respeito-as a todas, ao contrário do que um tal de Manuel Sampaio, lacaio ideológico da repressão socrática (talvez mais por ignorância quanto àquilo que defende que por maldade), veio aqui proferir nos seus clarividentes comentários. No dia em que tirei a fotografia aos azulejos do Bar Preto estava na companhia (além da minha esposa que, em grande harmonia cromática, é tão ovelha negra quanto eu) de duas ferrenhas apoiantes das políticas socratóides. E eu, e a minha esposa, cruéis marxistas-leninistas-estalinistas-trotskistas-maoístas, de tendências incendiárias e bombistas, talvez ruminássemos em que monumento nacional é que poríamos pneus a arder durante essa noite, em conjunto com algumas luzes esteticamente irrepreensíveis de cocktails molotov que comporiam as maravilhas das nossas pupilas retino-gustativas de lobos disfarçados de ovelhas. Corre a ideia de que o Bloco de Esquerda é um grupo radical. É-o, com certeza. Nada há de mau em ser radical, quando se defende o direito à liberdade, à justiça social e à solidariedade. O Bloco de Esquerda com que tenho contactado não é o Bloco de ferozes devoradores da liberdade de expressão decalcados dos Chávez (esse que pede aplausos para o seu amigo português que, não, não se chama Francisco Louçã). Há aqui e ali alguns trotskistas-maoístas - sem dúvida que os há, mas serão ainda mais residuais do que no PS de Sócrates. O PS de Sócrates é um partido de puro culto do líder, característica clara dos totalitarismos com que se quer pintar, de negro, a cara dos bloquistas. Ora, em verdade vos digo que o Francisco Louçã é para os bloquistas alguém que se admira mas que não se venera. Basta-me isso para não ter medo destes desgrenhados revolucionários que querem nacionalizar tudo e enterrar o país na fome das albânias e na repressão dos gulags, segundo os direitistas-socratóides. Destes desgrenhados a que pertenço com orgulho. Parece que o PP de todas as demagogias ultrapassou o Bloco. Era de esperar. É negro o horizonte deste país entregue às mentiras e às quezílias dos interesses privados. Ainda assim, algo se ganha hoje. Há algo de luminoso numa estrela, sobre o fundo negro com que os gatos negros do azar se vão lambendo, no cio, entre gemidos de sedução e de mentiras...
Alguns lambe-botas do socratóide-socialismo têm rondado, quais abutres, as minhas paragens de pouco pouso político. Vê-se que são finos. Escrevem "derrepente", tão "derrepente", que não lhes pára a mente um segundo para aprender a escrever. Tenho indícios de que poderão ser da escola de Margarida Moreira e partilham com ela o manual de boa conduta que consiste em estender a mão para a frente, com a palma virada para o chão, frente às mentiras e à falta de vergonha de uma ministra que, tendo feito merda na educação, tenta a todo o custo vender a ideia de que nunca as escolas funcionaram tão bem. Não vou dizer que a escola, antes, funcionava bem. Era preciso mudar práticas. Era preciso exigir mais dos professores. Mas exigir mais trabalho a sério. Mais qualidade no seu trabalho efectivo, e não no fogo de artifício com que legitimarão as subidas de carreira de pessoas que apenas o farão graças à sua capacidade de moldagem aos poderes de "liderança" com que se mascara uma escola cada vez menos democrática e onde não serão os melhores a serem beneficiados pela avaliação, mas aqueles que sabem vender a imagem de serem melhores. Vivendo eu neste atoleiro, só posso usar esta linguagem que choca os ouvidos destes socialistas de sacristia que não podem ouvir que a sua ministra, cornucópia do seu maná diário (e futuro), merece um chapadão na tromba. Chapadão verbal apenas, meus caros, não temais pela integridade física da senhora das trombas. Estes senhores ficaram chocados por eu, professor, usar de tal linguagem imprópria. Pois, em verdade vos digo que isso de linguagem imprópria não existe. Até as palavras grosseiras são filhas de Deus, mesmo que sejam, ao mesmo tempo, filhas da Puta. As palavras grosseiras são como as caretas com que as crianças expressam as suas dores. São grosseiras porque não podem ser finas. São grosseiras porque não se amarram angústias com teias de aranha. São grosseiras porque têm a força sagrada de serem proibidas. Digo que esta ministra tem tromba, mas podia dizer pior. Podia dizer pior. Podia, por exemplo, dizer aquilo que agora mesmo apaguei com um "delete". Apaguei, porque vivo num país onde os socialistas de sacristia acenam com as garras do medo, enquanto se embebedam com o vinho conspurcado por missas negras, rondam como carraças aqueles que se indignam contra a mentira e a desfaçatez de uma megera que, ao mesmo tempo que calca os professores com o sadismo satisfeito de um cilindro compressor, inventa supostas melhorias no ensino e elogia hipocritamente o trabalho desses mesmos professores, de forma a passar a ideia de que agora, sim, aqueles calões estão a trabalhar - e que foi ela, mais os Libânios, Moreiras e afins, que os vergaram ao trabalho duro. E, ao mesmo tempo, lhes negam a justiça de um reconhecimento de acordo com o seu trabalho, ao mesmo tempo que abrem de par em par as portas do topo da carreira aos amigalhaços que rezam o terço a Santa Maria Lurdes e ao Deus Pai José, em procissão com líderes, directores e gestores amarrados aos cordelinhos das conveniências. Sou professor. Sou uma pessoa. E o meu vocabulário, perdoem-me a falta de modéstia, é muito acima da média daquele que é usado por Libânios, Moreiras e afins. Mesmo que eu me socorra, por vezes, do calão e de expressões consideradas baixas, por considerar que a liberdade de expressão tem mais valor que a vassalagem indigente daqueles que vivem da burrice de um povo que convém manter lerdo e submisso, com professores que só utilizam (mesmo num blogue pessoal - não falo da sala de aulas) o vocabulário certificado pela Direcção Regional de Educação.