Como me vai levar algum tempo a avisar toda a gente que tenho um novo mail (ainda não perdi a esperança de recuperar o antigo), se me quiserem contactar é ir à barra esquerda direita deste blogue e clicar onde diz "Escrevam-me". Logo direi se consegui recuperar o antigo...
São Rosas, senhor... São Rosas... Ah... E uma orquídea.
Claustro de D. Afonso V, Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Batalha (foto minha, em GFDL)
A criação dos blogues permitiu que todos os que tivessem acesso a este grande luxo que é a Internet pudessem, finalmente, serem editores de si mesmos. Todos podem escrever e saber que são lidos por desconhecidos. A palavra escrita, ao contrário da palavra dita (pelo menos antes do advento das
gravações de voz) pode ecoar entre desconhecidos cujos caminhos caminhos nunca se cruzarão com o nosso. Sabemos que escrevemos para um leitor ideal ou provável, mas o leitor efectivo, esse, é sempre uma incógnita que, provavelmente nunca conheceremos. Mas é aí que reside toda a vaidade de quem escreve, bem ou mal. E é à vaidade que quero chegar - quem quer que escreva (ou pinte, ou componha, ou projecte...), fá-lo movido única e exclusivamente pela vaidade. Que outra motivação teríamos para gravar, para além de nós, os nossos pensamentos se não nos envaidecêssemos deles? Teremos razão para nos envaidecermos deles? Na maior parte dos casos, não. Se quiséssemos proceder a um auto-de-fé semelhante àquele que um licenciado, um cura e um barbeiro procederam na biblioteca de Dom Quixote, movidos apenas pelos critérios pessoais de um pequeno grupo, poucos seriam os livros a salvarem-se. E digo poucos, mesmo que esses poucos fossem alguns milhões. A verdade é que aqueles que escrevem dividem-se entre os que amam os livros, quaisquer que eles sejam (incluindo os livros que abominamos - é esta uma espécie diferente de amor), e aqueles que com um livro ou meia dúzia deles pretendem destruir os que vieram e os que queiram vir. Os imperadores chineses (incluindo o do livrinho vermelho) tinham essa mania de querer recomeçar a História com os livros da sua própria escolha. Outros houve, e continuam a existir, que mantêm essa fúria assassina contra a mais bela das vaidades humanas. Contudo, se há livros que todos os dias morrem, comidos por insectos em arquivos bolorentos ou desfazendo-se em cinza, a escrita etérea da internet multiplica-se, entranha-se, espalha-se, contamina as mentes com grandes verdades e grandes ideias salpicadas por doses astronómicas de boatos, mentiras e sentimentos mesquinhos. Tudo como dantes, mas com outra velocidade, outra magnitude e com outra generosidade. No meio de tantas palavras, ainda assim, persistimos em escrever com a esperança de que alguém nos leia - mesmo que seja para criticar, rectificar, ensinar... Mas, é claro, o que mais desejamos é sempre uma palavra de apoio, um elogio, um afago à nossa vaidade. E isso é bom. A vontade de ser-se amado é o primeiro motivo para amarmos.
Quando comecei a coleccionar links para outros blogues que visito regularmente, pensando em como organizá-los, preferi dispô-los por graus de afinidade. Não uma afinidade objectiva, mas puramente pessoal. Se compararmos os blogues de cada grupo veremos uma grande heterogeneidade de formas e temas reunida no mesmo ramalhete floral, excepto no caso da
orquídea, porque há cavidades do coração apenas com lugar para uma flor. Mas no cesto das rosas, cabe sempre mais uma. E é com prazer que as vou adicionando, de forma caótica: as amarelas, as vermelhas, as brancas, sem preocupações de monocromatismo.
Dos tempos em que não tinha blogue, ou em que estes, que eu saiba, não existiam, tenho apenas dois pés de rosa: da
Sandra e do
Artur. A Sandra é uma amiga com quem compartilho o gosto pela poesia, pelo cinema, pelo teatro e com quem tive o prazer de ver os Irmãos Catita ao vivo (numa noite que terminou no posto da Guarda de Santa Apolónia) ou de saborear uns belíssimos pezinhos de coentrada n' "A Maria", no Alandroal, acompanhados de um Borba, rótulo de cortiça, memorável.
O Artur, dono do admirável
Intergalacticrobot, designer gráfico vanguardista de uma revista académica de número único, onde participei (A "Ti' Merenciana") cultivava, então, o estilo blasé e despreocupado. Sempre cheio de ideias e projectos, gostava de Kieslowski, de Cronenberg e sabia deplorar, de forma discreta, inteligente e irónica, o deserto acéfalo que rodeava a então designada Geração Rasca. Foi graças à Sandra que o descobri na Blogosfera, para meu grande proveito e ilustração.
Depois, já por aqui, comecei a ter a lata de nomear amigos à força. E eles, coitados, pressionados pela minha presença sufocante, lá me vão aceitando a amizade dita virtual, mas que, por mim, reputo como bem real. Sinto-lhes a presença, por vezes, na caixa dos comentários e, por vezes, na caixa de correio-electrónico (que, por acaso, terei de mudar, já que não consigo aceder à conta que mantinha - tenham, pois, atenção ao vosso mail, já que lhes enviarei o novo endereço que vou passar a usar). Destes amigos, o primeiro foi o José Eduardo Lopes, de "
A Estrada de Santiago", com quem não troco mais comentários à sua arte de fundir e quebrar palavras em cristais porque o seu sistema de comentários não me aceita nem pintado. Outro dos primeiros amigos foi o superlativo Paulo Brabo, da
Bacia das Almas e que, do outro lado do Oceano, rapidamente me abriu as portas acolhedoras e fascinantes do seu Monastério, após pouco mais de meia dúzia de palavras sobre as Índias Ocidentais. À conta dele conheci o
Jo Lorib, verdadeiro construtor de pontes sobre o Atlântico, com quem partilho a Wikimania e que, por sua vez, me apresentou ao José Cunha-Oliveira, dono de uma brilhante colecção de apontamentos sobre
Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira que, inscrevendo-me na sua Frota Honorária, por sua vez, me deu a conhecer nova rota em direcção ao
D'Noronha, senhor da sua arte e que comigo partilha a paixão pelas árvores.
Foram, exactamente, as árvores e outras plantas mais rasteiras a servirem de guardiãs de um labirinto, circular como o tempo e as estações, que passa pelos apontamentos e imagens do
Filipe-um-amador-da-natureza e, depois, pela serenidade rural filtrada pela lucidez e bom gosto de uma inimitável
Ana Ramon, autora de alguns simpáticos e belíssimos "mails", repletos de pérolas, que a autora, contudo, prefere não ver divulgadas por mãos alheias. Outras agrestes vias, ramificam, do mesmo modo, pelo que designei de miosótis: aqueles que ainda tenho pudor de colocar entre as rosas.O
Digitalis Kitsch Blog, em cujos arquivos encontramos bastantes razões para aí deambular, em vários registos, floresceu também por aqui, disseminado já não sei por que benfazejo agente transportador de sementes.
Finalmente, o
Paulo Hasse Paixão, que inscrevi na minha lista de gladíolos assim que comecei a ler os seus comentários à sua selecção de 7 pérolas da Colecção do Dr. Rau, e que me deu a conhecer as "69 Love Songs" de Stephin Merritt (que há algum tempo estão a reclamar algumas palavras minhas por aqui), e de quem já aqui comentei a audácia em propor uma existência heteronímica para Sócrates (o verdadeiro... mesmo que o não tivesse sido, de facto), teve a impudicícia de escrever
este post que, só pelo título, vale como uma coroa de louros.
É bom ter amigos. É bom ter rosas com que encher o cesto vazio da vida. A blogosfera é apenas mais um canteiro. Obrigado, pois, por se deixarem, assim, colher...