Segunda-feira, 16 de Abril de 2012
Blues Control com Laraaji e Arji

Não sou, em termos de pensamento, muito dado aos tiques New Age e dos orientalismos místicos. Mas, às vezes, as ondas arrastam-nos até à beira desses oceanos. Molhamos neles os pés e compreendemos algo mais sobre quem somos, de uma forma ingénua, descascando as escamas que nos enchem de cataratas a vista. Não que se abram mais os olhos, nem se melhore a nitidez do que se sente, até porque os sentimentos não se exprimem em palavras a não ser através do enigma da poesia, mestra da destruição dos significados, imergindo-os no feitiço das coisas primordiais - das coisas que não sabemos, não entendemos, mas que nos empurram em direção à nossa felicidade. Laraaji (nascido em 1943) é um músico norte-americano, nascido em Filadélfia, com o nome de Edward Larry Gordon. Dedicando-se à música desde jovem, estudou violino, piano, trombone e voz nos seus primeiros anos em Nova Jersey. Frequentou  uma Universidade Historicamente Negra em Washington DC, a Howard University, com uma bolsa para estudar composição e piano. Depois, em Nova York, ainda tentou a carreira de comediante e ator.
No início dos anos setenta, ao estudar o misticismo oriental, encontrou um novo rumo para música e para a vida. Comprou a sua primeira cítara numa loja de penhores e adaptou-a depois a instrumento eletrónico, de modo a usá-la como piano. Em 1978, fazia interpretações de rua nos parques e nos passeios de Nova Iorque. No ano seguinte, foi descoberto por Brian Eno enquanto tocava na Washington Square Park. Patrocinado po Eno,  lançou o álbum "Ambient 3: Day of Radiance", o terceiro de uma série de Brian Eno dedicada à música "ambiente".  Começou então a compor versões mais longas das suas peças, gravadas em cassete e procuradas por grupos de meditação. Entretanto, expandia o seu entendimento místico do mundo com gurus como Swami Satchidananda Shri Brahmananda Sarasvati, fundador do Ashram Ananda em Monroe, Nova Iorque. Em virtude deste percurso, descobriu no riso um meio de meditação que, aliás, está bem presente nas suas composições, não só através da sua voz metálica como na da sua companheira Arji, a senhora da percussão, que entre caixinhas, vasos orientais e conchas, lança gargalhadas que irrompem numa malha sonora que, graças a um certo humor interpretativo, consegue ultrapassar a monotonia da música ambiente que, por vezes, empesta um certo tipo de comércio com cheiro a incenso. A junção da música mais electrónica dos Blues Control completa a atmosfera. Para ouvir com a cara lavada e o coração aberto ao riso do universo.

 

publicado por Manuel Anastácio às 00:18
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