Hoje, levei três alunos à Sessão Distrital do Parlamento dos Jovens em Braga. Preocupado em ensinar-lhes as técnicas da persuasão política, são eles testemunhas de quanto me preocupo em transmitir-lhes que, mais importante que convencer é fazer aquilo que é correcto, de acordo com a nossa consciência e não de acordo com o nosso egoísmo. O meu aluno Tiago Peixoto pegou, então, em dois discursos que o emocionavam e que falam disso mesmo. Aquilo que é correcto. Um do Bono Vox e outro do Martin Luther King. E convenceu. E, no meio das tricas de bastidores que envolveu a sua própria eleição para a Sessão Nacional (sim, ele vai até à Assembleia da República falar para a Nação) voltou a mostrar-me como tudo o que envolve a política é sujo, tão sujo para os jovens como é para os adultos. Eu ando na política por uma razão apenas. Porque o Partido em quem acredito precisa de mim. Apenas por isso. Nunca me vou candidatar a cargo político algum. Mas o Tiago talvez vá candidatar-se a um cargo, um dia. E, provavelmente, não será no meu partido. Um deputado de um partido que não vou nomear aproveitou o intervalo para o convencer a fazer carreira pelo seu partido. E eu, ironicamente, disse que não podia ser, que ele já estava requisitado para o meu. E... tudo me leva a crer que o deputado julgou que eu estava a falar a sério. E se estava, estava apenas num ponto: pretendo requisitar o Tiago para o partido das pessoas com consciência, para o partido daqueles que não vendem a alma, acreditem ou não na existência dela.
Passei o fim de semana a trabalhar para hoje com o Tiago, com o bate-papo do gmail sempre aberto, a trocar mensagens e a estudar as medidas das outras escolas enquanto o Tiago discursava para o vazio perante o olhar atónito do seu irmão mais novo. Hoje, levava dezassete folhas para distribuir a dezassete escolas com sugestões de melhoria e aperfeiçoamento das medidas para que as outras escolas, numa atitude de transparência que vai para além do que qualquer manual de política alguma vez proporia: de facto, estavam a dar os trunfos aos adversários antes do debate... mas faziam-no de modo a tornar mais eficiente o debate, numa base de pura confiança. Fazer política, deixando a política à porta.
Um dos representantes de outra escola recebeu a folha com desprezo e, olhos nos olhos dos meus alunos, rasgou o papel que lhe fora estendido. Graças a Deus, o Diabo fez justiça. E os olhos do desprezo marejaram-se de lágrimas de inveja.
Assim seria no Dia do Juízo Final.
De volta à escola:
- Professor, o que é uma Utopia?
E eu sorri... O que eu gosto de perguntas destas...