Sexta-feira, 15 de Outubro de 2010
Eternidade

Van Gogh, Noite estrelada

 

Se Amor te vier despertar,
Sem setas, sem asas, numa leve corrente de ar,
Continua a dormir.
Quando se apresentar,
Cobrindo-te os seios em flor
Em néctar
dorido, em nocturno odor,
Aspira-os como se fosses mar,
E continua a dormir.
Que o Amor, tal como o fogo, é assim,
Feito de luz aberta à escuridão.
Sussurra entre os lábios que és um não
E escreve com os dedos que és um sim.
E continua a dormir.
Se ele, o Amor, te vier raptar,
Imita o mar. E segue até afundar
No mais fundo infernal dos leitos.
E, havendo espaço entre dois peitos,
Acorda apenas para as carícias
De certas delícias de quem, como tu,
Descobrindo-se nu, se aconchegou ao pecado
Do clarão velado das lanternas a que chamam estrelas.
Essas, que, eternas, sem sê-las,
Assim se fixaram no firmamento,
Alheias à morte e ao pensamento.
Sossegadamente, assim, a dormir...
E há quem diga que a sorrir.
Como tu.

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publicado por Manuel Anastácio às 06:45
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10 comentários:
De Gerana Damulakis a 16 de Outubro de 2010 às 01:00
Belo poema.
"Se ele, o Amor, te vier raptar,
Imita o mar. E segue até afundar
No mais fundo infernal dos leitos": algo assim, aliás, é mais do que belo.
De Manuel Anastácio a 16 de Outubro de 2010 às 14:39
Mais que bela é a boa vontade de quem assim me afaga o ego...

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