Final da tetralogia de Der Ring des Nibelungen, Bayreuth 1976. Gwyneth Jones como Brünnhilde, Fritz Hübner como Hagen. Direcção de Pierre Boulez
Existem bombas inteligentes? Existem, com certeza. Aquelas que servem para puxar água das profundezas para a superficial secura. Se há expressão mais copiada na blogosfera portuguesa, é a do "Eu hoje acordei assim", um perfeito pretexto para fazer um post com uma qualquer citação, incluindo as visuais, que demonstram como somos de verdade e não como o espelho nos devolve, sem grande trabalho de escrita. Eu não. Acordo todos os dias com a mesma cara de quem quer continuar a dormir e é assim que continuarei a acordar até que adormeça definitivamente. E penso que, mais importante que a forma como acordamos, será a forma como morremos. Não poderemos morrer todos de um suicídio heróico como o de Clint Eastwood no "Gran Torino" (aviso atrasado: este artigo contém spoilers) nem tão poeticamente trágico como o da Tosca (se o encenador não se lembrar de pôr um trampolim a amparar a queda da suicida que voltará, qual anjo saltitante, de novo à cena como já aconteceu num dos anedóticos e míticos momentos da história da ópera com uma diva qualquer que não sei agora identificar). Mas podemos morrer todos como deuses. Eu hoje, se pudesse - e se tivesse de ser, entenda-se, que sou daqueles que quer usufruir de cada momento de sofrimento até ao fim1 - morria assim2.
1. E entenda-se como fim, o limite a partir do qual o sofrimento já não é sustentável. E entenda-se que ninguém deve impor esse limite a ninguém.
2. Como a Brünnhilde, claro. às vezes esqueço-me de que há leitores que apenas me lêem e não têm paciência para ver os vídeos que escolho. E vice-versa. E, ainda, aqueles que nem uma coisa nem outra - são os leitores-meteoro. Os mais frequentes. Fugazes, por vezes deixam um rasto de luz que rapidamente se desvanece em sonhos e em desejos sem promessa. Se por acaso olharmos para eles quando passam pela atmosfera.