Domingo, 19 de Abril de 2009
O Visconde cortado ao meio, de Italo Calvino

In Questa Reggia, de Turandot, cantado por Ghena Dimitrova, Arena di Verona, 1983. É favor apertar os cintos...

 

"O Visconde cortado ao meio", de Italo Calvino, é o primeiro livro da trilogia "Os Nossos Antepassados". É um livro de linguagem e estrutura feérica, onde as formas mais presentes nos tradicionais contos de fadas conseguem ser desenvolvidas nos seus aspectos mais terríveis, a caminho do sadismo, num contexto referencial adulto, norteado por um sentido de humor que balança entre o infantil e o mais filosoficamente profundo cinismo. Hiperbólico e metafórico, é um romance poético sem se deixar ofuscar pela sua linguagem poética. A invenção do absurdo nunca se sobrepõe à narrativa que avança sempre com o mais nobre (e hoje, cada vez mais difícil) intuito de qualquer obra de ficção, que é contar uma história. Há, com certeza, um fundo moral e político que, independentemente de qualquer pretensa opção puramente hedonista do autor, conforma uma alegoria sobre a natureza humana e a sua necessária complexidade. Ao contrário de alguns autores, não considero que Calvino ataque a bondade pura; apenas expõe ao ridículo a sua estéril e impotente obra e o desejo de recorrente reformismo, em contraste, por exemplo, com a atitude pedagogicamente correta da ama Sebastiana que admoesta a parte boa do visconde sem querer saber de qualquer desculpa baseada na origem maligna dos comportamentos apenas imputáveis à parte má, porque ambos permanecem, ao seu olhar maternal, como um só.

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publicado por Manuel Anastácio às 20:00
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6 comentários:
De Paulo a 19 de Abril de 2009 às 20:48
(...) "o facto de a Turandot ter de se lançar para a estratosfera ao cantar “Quel grido” não é inocente" (...)

Jorge Rodrigues
De Manuel Anastácio a 19 de Abril de 2009 às 21:41
Não é inocente... Nem aconselhável a cardíacos...
Que saudades do Ritornello...
De Paulo a 19 de Abril de 2009 às 21:47
Cá em baixo temos o Esferas no mesmo horário do Ritornello. O clima é o mesmo, só é pena não ter cobertura a nível nacional.

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