Cemitério de São Dinis, Vila Real.
Sobre os arbóreos tramos
Que para nossa abóbada escolhemos,
Enquanto apenas em nós vivemos,
Passou a aragem dos teus gestos entre os ramos.
Sacudiste a seiva que escorria de cada galho
E, tremendo, chovi em pétalas sobre o teu rosto.
Passa o verão, seca o orvalho,
E logo vem a estação do mosto
Destilar, no cobre fosco do alambique,
Alheios fantasmas de vapor entre o calor que morre.
Lá fora, a água escorre.
O musgo medra.
O vendaval procria.
Chegados aos átomos,
Pragmáticos,
Os sábios matemáticos consagram-se à poesia.
A cristal geometria do crisol
Solidifica a demora, e o sol,
Noutra abóbada, noutro lar, noutros tramos,
Sobre outro olhar, onde não estamos,
Apenas orvalhará primaveras noutro, agora, ausente rosto,
Indiferentemente renovado, no seu quase eterno posto.